quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Inclusivass promove oficinas e divulga materiais de conscientização para mulheres com deficiência

Na foto matéria do Grupo Inclusivass que saiu no Jornal do Comércio, as integrantes Carolina Santos  Liza Cenci seguram o fôlder do Grupo.


Inclusivass promove oficinas e divulga materiais de conscientização para mulheres com deficiência
Luana Casagranda
empresasenegocios@jornaldocomercio.com.br



Quando Carolina Santos deixa um restaurante não adapta-do para cadeirantes, alerta:“sai mais em conta você construir uma rampa do que pagar uma multa se eu te denunciar”. A frase,ela conta, se repete com frequência, já que grande parte dos estabelecimentos não cumpre a Lei da Acessibilidade. Essa realidade não se restringe apenas a prédios comerciais,mas também ocorre em locais públicos, que deveriam estar aptos a acolher pessoas com algum tipo de deficiência. Cansadas dessa realidade e decididas a cobrar seus direitos, um grupo de ativistas apontou todas as reivindicações na Carta das Mulheres com Deficiência do Rio Grande do Sul.

O documento foi organizado pelo Inclusivass, um dos projetos da ONG Coletivo Feminino Plural. Entre as solicitações, está o atendimento adequado e humanizado a mulheres com deficiência em áreas como a da saúde e a da segurança,nas quais encontram as maiores dificuldades. O grupo surgiu no final de 2014, depois da realização do Seminário das Mulheres com Deficiência e Políticas Públicas, ocorrido em março. Lá, as ativistas elaboraram a primeira versão da carta. “A Télia Negrão(coordenadora do Feminino Plural), já me conhecia por causa da minha relação como movimento de combate à violência doméstica e, a partir do seminário, nós trabalhamos jun-tas e criamos o Inclusivass”, conta Carolina, que ficou paraplégica depois de ser vítima de violência doméstica.

Liza destaca que quase não existem estatísticas que indiquem o número de mulheres que passam a conviver com a deficiência por serem vítimas de agressões e maus-tratos dos companheiros ou que foram violentadas por serem deficientes. “Nós vemos, o tempo todo,meninas com deficiência sendo agredidas, muitas vezes pela própria família, mas não temos dados concretos”, afirma. Um dos estu-dos mais recentes foi apresentado pela promotora de Justiça de Ala-goas Stella Cavalcanti em 2013 -ela avaliou que 40%das mulheres com algum tipo de deficiência já foram vítimas de violência doméstica no mundo. Nesse sentido, outro ponto importante defendido na Carta é a inclusão, no boletim de ocorrência,do item “deficiência”.A indicação facilitará o levantamento de estatísticas que interseccionem a violência com a deficiência. “Só assim poderemos pensar em mais políticas de enfrentamento dessas agressões”, acredita Carolina.

O Inclusivass já realizou oficinas e,no final do mês de maio, promoveu o lançamento oficial da Carta das Mulheres com Deficiência. O documento vem sendo distribuído e conta com 21 itens que visam a esclarecer os direitos dessa população-principalmente das mulheres.Entre as principais reivindicações do relatório está a consolidação das redes públicas de atendimento e a capacitação dos funcionários para o atendimento com recorte de gênero e deficiência, adaptando e tornando acessíveis os equipamentos para acolher e auxiliar mulheres em situação de vulnerabilidade. Além disso, o coletivo entregou, no ano passado,uma das versões do manifesto para o ex-governador Tarso Genro e agora pretende entregá-la também ao governa-dor José Ivo Sartori.

De acordo com Carolina, o grupo realizará audiências públicas para debater com a população alguns dos itens mais importantes da carta, como o que tratados direitos reprodutivos das mulheres com deficiência. Ela relata que passou por muitas dificuldades quando decidiu que queria ser mãe.“Não tive informações sobre como seria minha gravidez.Eu ia até os médicos, e eles ficavam chamando outros para fazerem o exame de toque várias vezes. Hoje, luto para que isso não aconteça com outras mulheres”, afirma.

Direitos garantidos por lei

Em julho, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência. O texto classifica oque é deficiência, estabelece o atendimento prioritário em instituições públicas e discorre sobre os direitos dessa população nas áreas da educação, saúde, moradia, cultura, trabalho,entre outras.Carolina Santos e Liza Cristina Cenci, integrantes do Inclusivass, avaliam que a lei traz contribuições positivas,mas lamentam os vetos, principalmente o que dá prioridade às pessoas com deficiência em processos judiciais e o que obriga empresas com 50 a 99 empregados aterem pelo menos um funcionário com deficiência. “Isso reitera o preconceito de que a pessoa com deficiência é incapaz, que ela tem de retroceder,não sair de casa e não estudar”, acredita Liza.

Fonte: Jornal do Comércio