segunda-feira, 19 de junho de 2023

Matéria Correio do Povo- Ameaça constante.

Card em degrade rosa, lilas, verde e amarelo.
Na borda superior as logomarcas do Fundo Elas+ e Histórias Contadas
Abaixo o texto: Inclusivass no Jornal Correio do Povo. Em destaque a capa do jornal com uma mulher de costas, segurando um cartaz e na borda inferior o texto: Ameaça Constante. Ao lado foto de uma mulher cadeirante.



Matéria: Ameaça constante.

POR PAULA MAIA
O Jornal Correio do Povo trouxe no último domingo uma edição especial para falar sobre os crimes de FEMINICiDIOS com a abordagem às Sobreviventes de Feminicídio e o Projeto Histórias Contadas.
𝐕í𝐭𝐢𝐦𝐚 𝐝𝐞 𝐭𝐞𝐧𝐭𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚 𝐝𝐞 𝐟𝐞𝐦𝐢𝐧𝐢𝐜í𝐝𝐢𝐨, 𝐂𝐚𝐫𝐨𝐥𝐢𝐧𝐚 𝐒𝐚𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐜𝐫𝐢𝐨𝐮 𝐮𝐦 𝐦𝐨𝐯𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞𝐝𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨 à 𝐝𝐞𝐟𝐞𝐬𝐚 𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐢𝐫𝐞𝐢𝐭𝐨𝐬 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐝𝐚𝐬 𝐦𝐮𝐥𝐡𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐞 𝐦𝐞𝐧𝐢𝐧𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐝𝐞𝐟𝐢𝐜𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚.
𝙋𝙧𝙤𝙟𝙚𝙩𝙤 𝙢𝙞𝙧𝙖 𝙖𝙢𝙥𝙡𝙞𝙖𝙧 𝙤 𝙙𝙚𝙗𝙖𝙩𝙚.
Como outra forma de começar a suprir a escassez de informações e estatísticas, Carolina criou o projeto “𝙃𝙞𝙨𝙩ó𝙧𝙞𝙖𝙨 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙖𝙙𝙖𝙨”, com o apoio de uma organização sediada no Rio de Janeiro. Com o projeto, ela pretende ampliar o debate sobre as sobreviventes de feminicídio e incluí-las nas políticas públicas. Com uma escuta acolhedora, o grupo tem como meta mapear movimentos de atendimento e identificar as falhas do Estado sobre as vítimas. O livro “Histórias Contadas” é produzido pelas integrantes do movimento Inclusivass. Nesta primeira edição, quatro sobreviventes, vítimas de violência doméstica, contam em vídeo as suas vivências: como tudo começou, como os casos violentos aconteceram, o sofrimento e as sequelas que carregam até hoje “𝐄𝐮 𝐞𝐫𝐚 𝐭𝐨𝐭𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐥𝐚𝐝𝐚 𝐞 𝐯𝐢𝐠𝐢𝐚𝐝𝐚. 𝐍𝐮𝐧𝐜𝐚 𝐟𝐮𝐢 𝐮𝐦𝐚 𝐩𝐞𝐬𝐬𝐨𝐚 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐥𝐚𝐝𝐚 𝐩𝐨𝐫 𝐧𝐢𝐧𝐠𝐮é𝐦. 𝐒𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞 𝐟𝐮𝐢 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐨 𝐢𝐧𝐝𝐞𝐩𝐞𝐧𝐝𝐞𝐧𝐭𝐞, 𝐝𝐞 𝐭𝐫𝐚𝐛𝐚𝐥𝐡𝐚𝐫 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐨 𝐜𝐞𝐝𝐨.
Por causa do controle, eu não conseguia ser eu”, diz Carolina.
Ela afirma que falar da sua história sempre foi um processo tranquilo, mesmo com as dificuldades em voltar ao tema. É 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐥𝐚 𝐯𝐞𝐦 𝐟𝐚𝐳𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐡á 𝐪𝐮𝐚𝐬𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐝é𝐜𝐚𝐝𝐚.
A ativista considera importante a sua identificação com as vítimas e o fato de compartilhar a vivência de situações de feminicídio, para poder impactar na vida de mais mulheres e na construção de uma nova realidade. Por isso, afirma que o movimento criado por ela tornou-se um canal direto para acolhimento, conselhos e denúncias. “Hoje, após 22 anos, consigo entender que sou uma sobrevivente e o quanto isso impacta na minha vida. Quando eu falo das minhas dificuldades, falo das mulheres com deficiência”, explica Carolina.
Sou uma sobrevivente. 𝐅𝐢𝐳 𝐝𝐚 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐯𝐢𝐝𝐚 𝐮𝐦𝐚 𝐥𝐮𝐭𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐟𝐢𝐦 𝐝𝐚 𝐯𝐢𝐨𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚 𝐭𝐨𝐝𝐚𝐬 𝐚𝐬 𝐦𝐮𝐥𝐡𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐞 𝐦𝐞𝐧𝐢𝐧𝐚𝐬, 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐝𝐞𝐟𝐢𝐜𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚.
𝑫𝒆𝒑𝒐𝒊𝒔 𝒅𝒐 𝒎𝒆𝒅𝒐, 𝒂 𝒉𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒂 𝒓𝒆𝒄𝒐𝒏𝒔𝒕𝒓𝒖çã𝒐.
A trajetória de uma sobrevivente em uma época em que a Lei Maria da Penha não existia era dolorosa e marcada pela impunidade. O tempo passou, mas realidade mostra que os desafios seguem angustiantes. Mesmo com avanços significativos nas políticas públicas de combate ao feminicídio, a carência de ações que proporcionem assistência adequada é cada vez mais evidente, o que revela uma demanda urgente por ações concretas que ofereçam suporte efetivo às vítimas.
Escapar ilesa de uma tentativa de feminicídio vai muito além de um ato de sorte ou uma oportunidade para recomeçar. A violência sofrida pelas mulheres resulta em traumas, dores e transformações que afetam profundamente suas vidas. Existem muitos obstáculos a serem enfrentados, mas para quem fica com alguma deficiência permanente devido à violência doméstica, a realidade se torna ainda mais difícil. Sua segunda chance não é tão simples como pode parecer à primeira vista.
Embora possam sentir gratidão pela sobrevivência, o medo, a insegurança e as injustiças são companheiros constantes no dia a dia da jornada rumo de reconstrução. Um exemplo inspirador de superação é Carolina Santos, ou Carol, como também é conhecida, uma sobrevivente de uma tentativa de feminicídio que ficou paraplégica após o crime. Em 2014, ela criou o Movimento Feminista Inclusivass (assim mesmo, com dois "s" no final), grupo dedicado à defesa dos direitos humanos das mulheres e meninas com deficiência. Esse movimento é único no Estado e foi criado 21 anos após o crime sofrido por Carol, que a deixou refém de uma cadeira de rodas após receber um tiro. Ela afirma: “Sou essa sobrevivente. Fiz da minha história de vida uma luta pelo fim da violência contra todas as mulheres e meninas, especialmente as com deficiência”. Segundo Carol, as vítimas das tentativas de feminicídio que sobrevivem são esquecidas pela sociedade e até mesmo pela legislação, que não as inclui nas políticas de enfrentamento à violência. Ela afirma que o movimento tem atuado sozinho, mas conta com o apoio de outros grupos para ampliar o debate sobre as sobreviventes e vítimas de violência. “Não temos apoio do município nem do Estado”, desabafa. A ativista destaca que a violência contra as mulheres com deficiência está presente em situações cotidianas, como quando não consegue sair de casa devido à falta de acessibilidade ou quando enfrenta dificuldades para acessar atendimento de saúde. Os obstáculos encontrados por ela e outras mulheres estão longe de serem exceções, exigindo um investimento efetivo em políticas públicas.
Um dos problemas enfrentados pelo movimento é a falta de informações e de mapeamento das mulheres que se tornam deficientes após serem vítimas de feminicídio. A ausência de dados mais precisos dificulta a abordagem das sobreviventes e sem os índices é mais difícil criar políticas públicas efetivas.
A ativista cita a parceria de outras organizações e movimentos, que também atuam na assistência para as sobreviventes, como o THEMIS – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, Mirabal, Coletivo Feminista Elza Soares e Mulheres Quebrando Tabus.
𝐎 𝐩𝐫𝐨𝐜𝐞𝐬𝐬𝐨 𝐝𝐞 𝐫𝐞𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐫𝐮çã𝐨 𝐧ã𝐨 é 𝐟á𝐜𝐢𝐥.
“Cada mulher que eu consigo conversar, ter acesso, que ajudo a possibilitar que ela saia de uma situação de violência com vida e tenha uma perspectiva de reconstrução é uma vitória para mim. Somos fragmentadas, sofremos por todas. Quando uma morre, morre um pedaço da gente. E o meu trabalho ajuda a reconstruir esses pedaços”. A frase é de Fabiane Lara, 47 anos, uma das primeiras convidadas a compartilhar sua história no projeto. Ela destaca a importância de expressar todos os sentimentos que envolvem a lembrança dos casos sofridos.
No entanto, reconhece que esse processo não é fácil e que só conseguiu falar abertamente sobre o ocorrido 20 anos depois. Fabiane, como é chamada carinhosamente pelas companheiras de grupo, revela que por insegurança, medo de reviver certos lugares e por ser considerada uma mulher forte, havia sufocado sua história por muito tempo, mesmo durante as sessões de terapia. A primeira vez que ela se abriu completamente, compartilhando detalhes impactantes, foi no seu depoimento para o projeto “Histórias Contadas”. O acolhimento, a sinceridade e a ausência de julgamentos das outras participantes foram fundamentais no processo. “Coloquei para fora de uma maneira tão bem acolhida, sincera, livre, sem julgamentos. Foi forte, impactante e libertador. Eu estava totalmente acolhida”, lembra. A ativista enfatiza que o processo foi libertador. Embora não sinta orgulho da sua história, reconhece que despertou uma mulher que agora luta pelas outras. Antes, a batalha era apenas pela sobrevivência, como uma pessoa negra da periferia. Compreender profundamente o significado de lutar pelas mulheres é algo que ela foi descobrindo ao longo dos anos, mas a experiência de sobreviver a um feminicídio, em uma época em que não havia leis ou recursos adequados, foi marcante e crucial em sua jornada.
𝐓𝐡𝐚𝐢𝐬 𝐇𝐢𝐩ó𝐥𝐢𝐭𝐨, 42 anos, também é uma sobrevivente que ficou com marcas visíveis e uma deficiência na mão esquerda, mas que, segundo ela mesmo, decidiu viver e ser feliz. Hoje, as cicatrizes são asas das borboletas que ela tatuou. Uma marca ressignificada na pele. “A gente carrega a marca da violência. Todos os dias é uma luta. Todos os dias a gente acorda e não sabe como vai ser. Eu fiz várias entrevistas onde o preconceito falou mais alto", conta.
O caso de feminicídio contra ela ocorreu há dois anos. Decidiu então sair do Rio Grande do Sul para ressignificar a sua dor. Ela afirma que tinha crise de pânico quando precisava ficar em uma parada de ônibus, onde o crime aconteceu em plena luz do dia, em Porto Alegre. A técnica em enfermagem alega que mesmo tendo sobrevivido e com o apoio dos seus três filhos, não iria conseguir viver na cidade onde tudo aconteceu.
Thais afirma que uma dos grandes obstáculos para a reconstrução foi a recolocação profissional. O início dos diálogos com seus filhos, contudo, esteve longe de ser uma tarefa fácil. De acordo com ela, é uma troca de ensinamentos diária e que procura ao máximo conversar e dizer que nunca mais algo parecido vai ocorrer perto deles. Os pequenos não têm a exata compreensão do que ocorreu, mas ela conta que os ensina a respeitar os seres humanos, principalmente as mulheres. Já para a filha mais velha, alerta que nenhum tipo de agressão deve ser aceita.
Destacamos a parte que fala do movimento, a matéria completa você acesso em texto:
𝑵ú𝒎𝒆𝒓𝒐𝒔 𝒏𝒐 𝒑𝒂í𝒔 𝒔ã𝒐 𝒂𝒍𝒂𝒓𝒎𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔.
𝐒𝐞𝐜𝐫𝐞𝐭á𝐫𝐢𝐚 𝐧𝐚𝐜𝐢𝐨𝐧𝐚𝐥 𝐝𝐨𝐬 𝐃𝐢𝐫𝐞𝐢𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐚 𝐏𝐞𝐬𝐬𝐨𝐚 𝐜𝐨𝐦 𝐃𝐞𝐟𝐢𝐜𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚, 𝐀𝐧𝐧𝐚 𝐏𝐚𝐮𝐥𝐚 𝐅𝐚𝐦𝐢𝐧𝐞𝐥𝐥𝐚 𝐥𝐞𝐦𝐛𝐫𝐚 𝐚 𝐢𝐦𝐩𝐨𝐫𝐭â𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐝𝐚𝐬 𝐦𝐞𝐝𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐩𝐫𝐨𝐭𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚𝐬, 𝐪𝐮𝐞 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐦 𝐬𝐚𝐥𝐯𝐚𝐫 𝐚𝐬 𝐯𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐚𝐬 𝐦𝐮𝐥𝐡𝐞𝐫𝐞𝐬 .
A secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Faminella, expressa profunda preocupação diante dos alarmantes números de feminicídio no Brasil. Ela compartilha a mesma opinião da delegada Cristiane Ramos ao ressaltar que, muitas vezes, as mulheres já haviam sofrido violências anteriores e a comunidade ao seu redor tinha conhecimento dos casos, porém nenhuma denúncia foi feita. “A sociedade tolera e naturaliza essa violência. As pesquisas mostram que as medidas protetivas salvam as vidas das mulheres, mas infelizmente algumas delas tornam-se vítimas de feminicídio mesmo quando conseguem apoio do Estado. As sobreviventes acabam tendo alguma deficiência e este ponto é importante a ser ressaltado”, declara. Anna Paula confirma a invisibilidade das pessoas com deficiência e afirma que o governo federal está reorganizando a pauta dos direitos humanos. “A histórica invisibilidade e a negação dos direitos das pessoas com deficiência (PCDs) se aprofundou no Brasil com a pandemia. O capacitismo, que é a discriminação por subestimar nossas capacidades, também é milenar, como o racismo”, declara. Ela complementa afirmando que a sociedade precisa mudar sua percepção e tratamento em relação às pessoas com deficiência, afinal essa cultura de invisibilidade limita e, com frequência, impede o livre acesso aos espaços de decisão. “𝐀 𝐩𝐨𝐥í𝐭𝐢𝐜𝐚 é 𝐮𝐦 𝐚𝐦𝐛𝐢𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐡𝐨𝐬𝐭𝐢𝐥 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐭𝐞𝐦 𝐝𝐞𝐟𝐢𝐜𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚."
A sociedade está regulamentada pela regra da corponormatividade (que vê as deficiências como falhas)”, explica. Sobre as políticas públicas para as pessoas com deficiência, a secretária afirma que há muito o que fazer. “Desde 2016 não há uma política nacional de promoção dos direitos das pessoas com deficiência.
Além de acessibilidade, é importante construir um contexto social de superação da discriminação, valorização da diversidade e ampliação da oportunidade de participação para todos.
São enfrentamentos às barreiras que as impedem de exercer a plena cidadania. Ainda há muitos direitos fundamentais que não chegam para todas as pessoas e isso impacta em toda a sociedade, empobrece as famílias. A deficiência não pode ser encarada como uma tragédia, é um dado da realidade", conclui.
Acesso matéria completa:

terça-feira, 6 de junho de 2023

𝑷𝒂𝒓𝒄𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒄𝒐𝒎 𝑪𝒐𝒍𝒆𝒕𝒊𝒗𝒐 𝑰𝒏𝒄𝒐𝒎𝒐𝒅𝒆.

Pode ser uma imagem de texto
Ao longo do Projeto 𝐇𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐚𝐬 𝐂𝐨𝐧𝐭𝐚𝐝𝐚𝐬 construímos parcerias importantes para a inclusão do tema das sobreviventes de feminicídio em diversos movimentos do Brasil.
Entre eles o Coletivo Incomode na Bahia, que tem como atuação lutar pelos
direitos de toda pessoa humana, pois dentro das nossas vivências identificamos
que diversas violências atacam preferencialmente, mulheres.
Colaboramos na construção da cartilha incluído as sobreviventes de feminicídio no material.
A Cartilha 𝐎𝐬 𝟏𝟎 𝐩𝐚𝐬𝐬𝐨𝐬 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐢𝐝𝐞𝐧𝐭𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚𝐫 𝐨 𝐅𝐞𝐦𝐢𝐧𝐢𝐜í𝐝𝐢𝐨, é uma cartilha- informativa produzida com o objetivo de apresentar a sociedade as diversas formas de violências que afetam às vidas de mulheres e resultando o Feminicídio, onde vidas de mulheres são tiradas e famílias ficam desestruturadas.
A Cartilha chama atenção de como a violência está tão presente nas nossas vidas e o perigo dessas ações violentas que comprometem a vida das mulheres.
𝐀𝐜𝐞𝐬𝐬𝐞 𝐞𝐦 𝐏𝐃𝐅: https://encurtador.com.br/blsIT
@ColetivoIncomode

quinta-feira, 1 de junho de 2023

𝐑𝐞𝐥𝐚𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐒𝐨𝐛𝐫𝐞𝐯𝐢𝐯𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝐅𝐞𝐦𝐢𝐜í𝐝𝐢𝐨- Thais Hipólito



Thaís Hipólito, é uma mulher de trinta e nove anos, e é técnica de enfermagem.

Conheceu seu agressor e ex-marido aos dezessete anos, ele tinha 21 anos, no ano 2000, na casa de um amigo em comum. O início do namoro foi muito bacana, ele a enchia de mimos e presentes, a buscava e levava para a escola, e trabalho. O relacionamento se aprofundou e Thais se casou em 2005, em 2006 sua primeira filha nasceu. A essa época o relacionamento já tinha se desgastado, e Thaís sofria abuso psicológico, acompanhado por agressões verbais e ofensas. Com a perda de auto estima, ela passou a acreditar ser a culpada do desgaste do relacionamento.

Ao conseguirem adquirir bens, casa e carro, o relacionamento pareceu melhorar, mas os abusos psicológico, físico, econômico e verbal voltaram e a filha do casal tornou-se vítima também. Não aguentando mais toda essa situação, com muitas brigas e discussões, e já com mais dois filhos, Thaís voltou para a casa da mãe com os filhos, mas logo teve que voltar a conviver com o seu agressor, que não demorou em se tornar agressivo.
Thaís fez denúncias na delegacia da mulher, e decidiu se separar, mesmo assim as agressões contra ela e os filhos continuaram. Inesperadamente, o ex-marido se passando por um assaltante desferiu diversas facadas, deixo-a em uma poça de sangue, como se morta estivesse.
Um rapaz que passava a socorreu, chamou ambulância e acompanhou-a.
"... hoje eu vivo ainda o impacto de ter sido vítima de uma tentativa de feminicídio. Mesmo sendo uma sobrevivente, tudo isso mexeu econômica e socialmente comigo e com os meus filhos".
Devido às marcas da tentativa de feminicídio, Thaís sofre com preconceito, e discriminação por ter seu corpo marcado pelas cicatrizes das facadas que marcam seu corpo.
Durante o projeto “Histórias Contadas” , desenvolvido pelo Movimento Inclusívass, fizemos questão de manter acompanhamento da Thaís Hipólito.
Uma troca muito importante em podermos acompanhar de perto as barreiras, obstáculos, negligências, desafios e conquistas de uma mulher Sobrevivente de feminicídio.

𝐀𝐜𝐨𝐦𝐩𝐚𝐧𝐡𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐒𝐨𝐛𝐫𝐞𝐯𝐢𝐯𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐅𝐞𝐦𝐢𝐧𝐢𝐜í𝐝𝐢𝐨.



Quando se sobrevive a tentativa de feminicídio, não se consegue apagar o que se viu e viveu. Temos danos físicos, com cicatrizes e marcas permanentes nos corpos das sobreviventes; algumas se tornam mulheres com deficiência, mas além deles temos os danos invisíveis, que podem ser cicatrizes psicológicas, emocionais, que marcam as vidas dessas mulheres. Entre as cicatrizes que o crime deixa em suas vidas, temos: a sensação de autodepreciação; o temor pela própria vida; o temor pela vida de quem está ao seu lado, seja um novo parceiro/a, filhas e filhos, e outras pessoas de sua convivência; a sensação de abandono, de falta de apoio dos órgãos públicos é latente, devido à vulnerabilidade das mulheres frente aos seus algozes.

Além da sensação de medo e insegurança, as sobreviventes têm que lidar com a falta de acolhimentos adequados, falta de casas abrigo, falta de atendimento especializado psicológico/psiquiátrico gratuito, independente da situação social, e têm que lidar por conta própria com a dor na alma que se instala logo em seguida, abandono do estado e sociedade.
Pensando nesses desafios acompanhamos durante 10 meses uma sobrevivente de feminicídio, Thais Hipólito, 41 anos, mãe de três filhos, gaúcha.
A história de Thais se tornou conhecida após a mídia divulgar ela caída em uma parada de ônibus com varias facadas pelo corpo e sendo socorrida por um rapaz que passava na hora.
Uma vez por mês nos encontrávamos para acompanha-la em um novo recomeço, a insegurança na justiça fez com que ela fosse morar em outra estado, sozinha com os filhos, deixando familiares e amigos.
Neste acompanhamento nos tornamos um canal de escuta, troca, orientação e acolhimento.
Os desafios de uma mulher ao ter que carregar as marcas físicas e psicológicas, medos e traumas deixados pelo corpo.
A falta de estrutura, apoio financeiro e social impactou diretamente neste recomeço, as marcas deixadas pelo corpo impediam que Thais ingressasse no mercado de trabalho.
Um estado que virou as costas para mais uma mulher pela falta de politicas publicas, segurança e cuidado.
Acompanha-la foi vivenciar o silenciamento que uma sobrevivente de feminicídio vive pelo total abandono.