quinta-feira, 1 de junho de 2023

𝐀𝐜𝐨𝐦𝐩𝐚𝐧𝐡𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐒𝐨𝐛𝐫𝐞𝐯𝐢𝐯𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐅𝐞𝐦𝐢𝐧𝐢𝐜í𝐝𝐢𝐨.



Quando se sobrevive a tentativa de feminicídio, não se consegue apagar o que se viu e viveu. Temos danos físicos, com cicatrizes e marcas permanentes nos corpos das sobreviventes; algumas se tornam mulheres com deficiência, mas além deles temos os danos invisíveis, que podem ser cicatrizes psicológicas, emocionais, que marcam as vidas dessas mulheres. Entre as cicatrizes que o crime deixa em suas vidas, temos: a sensação de autodepreciação; o temor pela própria vida; o temor pela vida de quem está ao seu lado, seja um novo parceiro/a, filhas e filhos, e outras pessoas de sua convivência; a sensação de abandono, de falta de apoio dos órgãos públicos é latente, devido à vulnerabilidade das mulheres frente aos seus algozes.

Além da sensação de medo e insegurança, as sobreviventes têm que lidar com a falta de acolhimentos adequados, falta de casas abrigo, falta de atendimento especializado psicológico/psiquiátrico gratuito, independente da situação social, e têm que lidar por conta própria com a dor na alma que se instala logo em seguida, abandono do estado e sociedade.
Pensando nesses desafios acompanhamos durante 10 meses uma sobrevivente de feminicídio, Thais Hipólito, 41 anos, mãe de três filhos, gaúcha.
A história de Thais se tornou conhecida após a mídia divulgar ela caída em uma parada de ônibus com varias facadas pelo corpo e sendo socorrida por um rapaz que passava na hora.
Uma vez por mês nos encontrávamos para acompanha-la em um novo recomeço, a insegurança na justiça fez com que ela fosse morar em outra estado, sozinha com os filhos, deixando familiares e amigos.
Neste acompanhamento nos tornamos um canal de escuta, troca, orientação e acolhimento.
Os desafios de uma mulher ao ter que carregar as marcas físicas e psicológicas, medos e traumas deixados pelo corpo.
A falta de estrutura, apoio financeiro e social impactou diretamente neste recomeço, as marcas deixadas pelo corpo impediam que Thais ingressasse no mercado de trabalho.
Um estado que virou as costas para mais uma mulher pela falta de politicas publicas, segurança e cuidado.
Acompanha-la foi vivenciar o silenciamento que uma sobrevivente de feminicídio vive pelo total abandono.