segunda-feira, 30 de março de 2015

2º Blitz da Acessibilidade em Porto Alegre


A imagem mostra o grupo reunido.

Na última quinta-feira 26/03/15 foi realizada em Porto Alegre a 2º Blitz da Acessibilidade que teve como objetivo chamar a atenção dos espaços reservados as vagas para pessoas com deficiência mostrando para a população que estas vagas não devem ser ocupadas nem por um minuto pois dependemos delas para circular na cidade.
O evento ocorreu no dia em que nossa capital completava seus 243 anos um grande evento realizado em uma data que mostra o inicio da história da capital, o evento foi criado no ano passado com a iniciativa de 3 cadeirantes( Fernanda Vicari, Liza Cenci e Dilceu Junior) que sabem como é depender de uma vaga para estacionar e a mesma estar ocupada por um carro que não é adaptado, Fernanda Vicari uma das idealizadoras sabe a dificuldade que é poder ocupar um espaço reservado ainda não
 ha conscientização da população para este assunto e a blitz faz pensar quem passa pela rua e vê um monte de cadeiras de rodas ocuparem  estes espaços com frase : Vou ali, bem rapidinho, E não sabia, Só por um minuto entre outras.
O evento foi realizado pela Secretária de Acessibilidade com parceria da Fader, Eptc, Comdepa, Kinder, Acergs, AACD, Rumo Norte entre outras.
Contou também com a participação da população usuária, pessoas com deficiência que vivenciam no seu dia a dia a falta da acessibilidade e o desrespeitos a estas vagas reservadas.
O evento teve divulgação de material alusivo" Multa Moral".
As Inclusivass Carolina Santos e Fernanda Vicari estavam presente pois sabem a importância deste evento para conscientização da população.


Link do vídeo abaixo:



Abaixo a matéria que saiu no Jornal do Almoço com Fernanda Vicari:
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/jornal-do-almoco/videos/t/porto-alegre/v/cadeirantes-protestam-contra-motoristas-que-estacionam-em-vagas-para-cadeirantes/4063866/

Saúde e tráfico de mulheres em debate na próxima terça-feira – Brasília, DF, 31/03/2015

Logo da Cedaw

Organizações do movimento de mulheres que realizam o monitoramento da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, conhecida como CEDAW, vão discutir temas como aborto e tráfico de mulheres
Integrantes do Consórcio de Monitoramento da Convenção CEDAW discutirão com a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres,  além de outros integrantes do governo e parlamentares, caminhos para que o Brasil implemente as Recomendações do Comitê das Nações Unidas relativas a dois temas considerados cruciais para o Brasil: tráfico de mulheres e mortalidade materna.

Segundo as Recomendações divulgadas em janeiro deste ano, o Brasil cumpriu apenas parcialmente as obrigações assumidas para reduzir e controlar o tráfico de mulheres e não implementou as políticas de saúde necessárias para reduzir as mortes de mulheres durante a gravidez, parto, puerpério e abortos inseguros.
O Comitê CEDAW recomendou ao governo, entre outras medidas, que atue junto aos parlamentares do Congresso Nacional para evitar que as restrições ao direito ao aborto possam levar mais mulheres à morte.
Sobre o Monitoramento da CEDAW
Coordenado pelas ONGs Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Coletivo Feminino Plural, Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero da UFRGS, e pelo Comitê para a América Latina e Caribe para os Direitos da Mulher – Cladem Brasil, o Consórcio de Monitoramento da CEDAW é composto por 13 redes e organizações que ao longo de 2013/2014 elaboraram relatórios paralelos aos governamentais para subsidiar a análise dos representantes das Nações Unidas.
Neste período, o Consórcio produziu três publicações contendo relatórios, recomendações e textos com análises sobre Saúde da Mulher e Tráfico de Mulheres, que serão entregues à Ministra, a parlamentares que compõem a bancada feminina do Congresso Nacional, e à representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman.
A proposta do grupo é manter uma articulação permanente, já que a cada ano o Brasil presta contas ao Comitê CEDAW sobre a Convenção e, a cada dois anos, sobre dois temas destacados. Segundo essa lei internacional de direitos da mulher, os governos devem apoiar os movimentos sociais e a sociedade civil no trabalho de fiscalização da implementação, fornecendo os recursos necessários para sua execução.
Saiba mais sobre o Projeto de Monitoramento da CEDAW em:
Presenças confirmadas na reunião em Brasília:
Representando o Consórcio de Redes e Organizações da Sociedade Civil:
- Telia Negrão – Coletivo Feminino Plural
-  Clair Castilhos – Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
-  Ingrid Leão – Cladem/Brasil)
- Estela Scandola – Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conatrap)
Parlamentar:
- deputada Maria do Rosário Nunes (organizadora do encontro com a bancada feminina)
Conselheiras de Saúde:
– Socorro Souza (presidenta)
Comissão da Mulher do Conselho Nacional de Saúde:
- Santinha Tavares (presidenta)
Serviço:Audiência com ministra Eleonora Menicucci
Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM)
Brasília / DF
Dia: 31 de março de 2015 (terça-feira)
Horário: 15h
Fonte:http://agenciapatriciagalvao.org.br/

Maternidade X Deficiência- Relato de parto normal e cesária.

Na foto vemos Carol e Vitória gravidissimas e a frase: Maternidade X Deficiência
Carol e Vitória mães que se superaram.

A sociedade ainda associa a deficiência como algo vinculado à incapacidade, e quando o assunto é deficiência e maternidade nós mulheres com deficiência somos vistas como incapazes de sermos mães. Os pensamentos ainda preconceituosos e discriminatórios e mesmo por desinformação de muitas pessoas, levam a crer que a  deficiência te limita a não ter fertilidade, sermos assexuadasSão ideias relacionadas diretamente a nós. 
Embora muito tenha se falado sobre as pessoas com deficiência, suas limitações e potenciais, ainda falta informações para vivermos em uma sociedade menos preconceituosa. 
 Porque não deixar de lado a palavra coitadinha” que nada pode, e  trocar pelas possibilidades infinitas que temos de nos desenvolver em todos os campos da vida, inclusive esse da sexualidade, da reprodução, do afeto, das trocas. 
 As pessoas com deficiência, desde que conscientes de seus atos, tem vida sexual ativa, sentem desejos e prazer. As cadeirantes mantém sua fertilidade sem alterações em relação á deficiência. Uma mulher com lesão medular e pode sim ser mãe. Tudo isso é muito assustador a muitas pessoas, que preferiam pensar que nada disso passa por nossas vidas. 
 Cada experiência de maternidade é diferente para cada mulher. O mesmo ocorre conosco. Assim como para qualquer mulher,  quando o assunto é tornar-se mãe, tudo deve ser pensado e repensado. Cada condição física envolverá suas dificuldades, que devem ser levadas em conta. Mas  não se pode sonegar o  o momento único e lindo de uma mulher que é poder viver plenamente este momento. 
 Uma mãe cadeirante deve ser acompanhada por um obstetra de alto risco por se tratar de uma gravidez perigosa em razão do trato urinário e circulatório. 
 Assim, o planejamento deve ser bem pensado pois serão 9 meses entre o desenvolvimento de um novo ser e de uma gestante que terá alterações em seu corpo, o aumento de peso como um fator importante na saúde que pode atrapalhar o bom desempenho desta mulher, a rotina terá que ser mudada durante a gestação para não ser colocado em risco a a futura mãe e o bebê.. 
 O fato de estar em uma cadeira de rodas ou ter outro tipo de deficiência não impede de querer poder viver este momento na vida de todas as mulheres que optam pela  maternidade.  O que nos perguntamos é se os profissionais estão preparados para dar uma assistência especializada, ou esta realidade ainda esta longe, os equipamentos são adaptados para dar estruturas ao pré natal ou estas gestantes estarão conduzidas ao despreparo quando o assunto é maternidade e deficiência. 
 Um livro que fala da vida real de mulheres cadeirantes e mães é Maria de Rodas- Delicias e desafios na maternidade de mães cadeirantes, que conta a história de várias mulheres que se tornam mães depois da deficiência. Mostrando que sim podemos ter família, trabalhar, casar e ter filhos e ser feliz. 

Foi pensando nas dificuldades encontradas por mães cadeirantes que eu a Vitória resolvemos contar como foi a nossa gestação e o parto, vivemos momentos diferentes eu parto normal e ela cesárea, nos dois casos fruto de escolhas e de necessidades, não imposições. Nos dois casos, Carol e Vitória agem como donas de seus corpos, exercem sua autonomia ou desejam exerce-la. Encontram obstáculos e os superam. São histórias de mulheres reais que oferecemos para sua leitura 

Carolina Santos, lesão medular T2. 

Na foto vemos o pai ao lado da mãe que esta com o bebe no peito mamando.

A certeza da gravidez e de uma nova vida se deu desde o inicio, vi claramente que naquela hora onde um homem e uma mulher são tomados por um enorme prazer e se tornam um corpo só que eu estaria com uma nova vida dentro de mim, senti esta sensação única , coisa de Deus, e essa confirmação veio mesmo eu sabendo que estava grávida. 
Foram dois anos tentando engravidar e quando eu menos esperava esse sonho se realizou quando já não acreditava mais que poderia ser mãe. 
Não posso deixar de relatar aqui a experiência que tive sobre os médicos e meu pré-natal. Desde o inicio da gravidez, sem muitas informações de como seria esta nova fase na minha vida, fui ao posto de saúde para minha primeira consulta . Entrei no consultório o médico me olhou, e com todas as palavras disse eu não tenho como te acompanhar não me sinto seguro para tal e prefiro que você seja acompanhada por algum hospital até porque sua gravidez é de alto risco. Fiquei sem palavras, sem saber o que pensar, sai da sala decidida a procurar o Hospital de Clinicas que sempre me acompanhou, e imaginei que ao chegar na ginecologia encontraria toda orientação de como seria esta etapa de minha vida. Na primeira consulta recebi a informação de que poderia ter parto normal e poder ajudar nesta horaolhei para a médica achei que ouviria da médica que seria Cesária por ser uma mãe com lesão medular. Fui atendida por residentes, me fizeram perguntas, e logo o exame de toque( exame realizado no inicio da gravides e durante o trabalho de parto onde o médico introduz dois dedos no colo do útero para avaliar o comprimento do colo útero)  mais de um vez. Achei estranho o procedimento e fui pra casa pensativa... não tive muita informação sobre como seria minha gestação, com dois mês e meio fui às pressas para o hospital com febre e muita dorLogo que cheguei fui atendida entre exames para ver se meu filho estava bem, mas o exame de urina  constatou minha primeira infecção urinária. E neste momento se iniciou uma nova etapa na minha vida, remédios, idas a emergência, dor e febre e a infecção persistia os médicos me alertavam que pela quantidade de remédios tomados eu poderia abortar, perguntava se não tinha nada menos agressivo e a resposta era não, entre as consultas do pré- natal e idas a emergência me via perdida sem orientação o medo me assombrava a cada infecção não curada, tinha medo que meu filho não aguentasse. 

Foi ai que sem encontrar as respostas naqueles que achei que teria, resolvi ir em busca de minhas dúvidas pela internet. Lembro que tudo que eu queria era conversar com uma mãe cadeirante, tirar minhas dúvidas, pois sabia que teria minhas respostas. Mas não consegui.Continuei a estudar, fui descobrindo um mundo de informações. A cada consulta do pré natal, o que deveria ser um momento único era algo constrangedor, toda consulta um médico diferente que me tocava... saia das consultas com muitas dores, era carregada como um saco e por profissionais que não sabiam como me auxiliar. A falta de aparelhos adaptados me colocava nesta situação, mas  entre estes transtornos sofridos finalmente descobri algo que pudesse me ajudar na infecção urinária: o suco de Crawberry. Já estava com 24 semanas e foi o que me ajudou bastante. Neste mesmo tempo tive meu primeiro contato com uma doula que leu meu depoimento em um grupo de mães e se ofereceu a me acompanhar até o final da gestação e me trouxe muita informação sobre o parto e os procedimentos usados. E assim com ela eu e o pai do Roberth juntos aprendemos muito juntos elaboramos meu plano de parto. Queria poder decidir sobre meu corpo e de como seria as coisas neste momento tão singular para nós e a cada aprendizado a certeza do parto normal.  

Vinte dias antes do parto comecei a ter muita dor de cabeça. Sabia que não era normal pois meu corpo responde a algo errado. Dessa maneira relatei para os médicos, que nada me disseram, apenas ser normal. Já me sentia cansada e pesada, a gestação foi complicada, muitas dores a cada vez que meu bebê se mexia. O que era para ser uma experiência única entre nós, vê-lo se se desenvolver na minha barriga, mas eu chorava de dor Noites e noites acordada entre lágrimas, e ele se mexia muito! 

Dia 10/07/2013 acordei animada e muito disposta, diferente dos demais dias resolvi passar um batom bem vermelho e me maquiar e limpar a casa pois sabia que estava na etapa final e logo teria meu garoto comigo. Queria deixar tudo arrumado para recebê-lo e assim passei o dia limpando... cansada, tomei banho, jantei e resolvi ver um filme deitada, mas de repente senti vontade ir ao banheiro. Mas vendo não dar tempo, coloquei a mão e vi que minha bolsa tinha estourado, tentei me manter calma liguei pra Doula Eliane que disse que iria vir até a minha casa para juntas irmos para o hospital, minha mãe preferiu chamar a Samu com medo e assim fomos para o hospital dentro da ambulância. O médico viu que minha pressão estava alta demais mas eu me sentia super bem. Chegamos no hospital subimos eu e o meu então companheiro  para  o CO. Passei meu plano de parto e pedimos para os médicos que a Doula nos acompanhasse para poder fazer a descrição do parto para o pai que é cego. 

Fomos para pré- sala de parto quando nos informaram que eu estava com p- Eclampsia, o aumento da pressão arterial. Aplicaram o Sulfato de Magnésio mas não me disseram os efeitos e me informaram que teriam que aplicar a Ocitocina para aumentar as contrações que foram diminuindo... durante 8 horas de trabalho de parto estava bem mas a pressão não baixava e mais Magnésio, a doula cantava, ramos e cada um segurava minha mão o que me dava tranquilidade´, mas de repente comecei a sentir muita dor de cabeça queria gritar e não conseguia, a cada hora um médico diferente entrava e fazia o toque o que era desnecessário pois o Roberth já estava na espera de sua hora e foram cinco longas horas de muita dor quando a equipe entrou correndo e me disse que meu filho já estava em sofrimento e que era a hora e tentariam de tudo para o parto normal, se não teria que fazer cesariana 

Já sem controle de mim. e o medo do meu companheiro, e da doula, fomos às pressas. Sabia que era tudo ou nada, meio desorientada por causa da dor, a sala cheia de residentes olhando um momento nosso, mas assistido por muitos.Na primeira tentativa fiz força mesmo sem ter  sensibilidade pois não sentia mais nada... segunda tentativa e nada e na última e médica fez a epIsiotomia ( corte do lado da vagina) foi quando eu senti a dor na cabeça pois era assim que meu corpo respondia, fiz força e a outra médica com os braços apertou minha barriga com tanta força que finalmente meu filho nasceu! Quando o vi me assustei, estava roxo e às pressas os médicos tiraram ele do meu peito e meus olhos o acompanharam. Quando retornou estava no colo do pai que não continha a felicidade, o entregou  a mim e naquela hora eu queria ter forças para gritar, chorei e beijei finalmente meu garoto. 
Nós três nos abraçamos e entre lágrimas, com ele no meu colo a certeza que eu tinha finalmente vencido o desconhecido. 
Não arrependo de nada e nem pela escolha que fiz sabia que o inesperado poderia estar comigo naquele momento mas deixei nas mãos de Deus. 
Fui muito criticada pela escolha que fiz, mas também tive muito apoio daqueles que acreditaram que eu era capaz. 



Vitória Bernardes,lesão cervical C5 e C6 
 
Na foto vemos o médico com a Lara na mão mostrando para Vitória.

Minha avó teve 09 partos normais domiciliares e 02 partos normais em hospital. Aprendi que para cólica tem chá de funcho, dor de barriga chá de marcela, dor de cabeça/ansiedade, toma um chazinho de laranjeira que tá resolvido. Minha cultura sempre foi voltada ao natural, como quem reverencia a tudo que a natureza faz e nos oferece. Casei com uma pessoa que em sua família o parto normal é motivo de luta e orgulho. Em meio a uma cultura cesarista, o parto normal pra mim era praticamente uma obrigação. 

Quando fiquei grávida, mesmo antes de assimilar a complexidade de ser responsável por uma nova vida, na 1ª consulta ouvi que meu parto poderia ser/seria normal. Sem saber os motivos, este obstetra disse que não acompanharia minha gestação, mas me orientou a ter meu parto no Hospital de Clínicas, mesmo que fosse pelo SUS – o que faria com que eu não tivesse um acompanhamento contínuo com os profissionais – pois se acontecesse algo derivado a escolha pelo parto, lá teriam outras especialidades médicas para me atender.
 Vulnerável e desamparada, parti em busca de um novo profissional. Na primeira (e também única) consulta a nova obstetra me garantiu que a única via de parto possível para minha condição física era a cesárea e que isto independia de vontades/sonhos. Não aceitei a imposição e, muito menos, a ideia de não ter escolha sobre meu corpo. Lá fui eu em busca de alguém que respeitasse a MINHA gestação. 
 Logo em seguida tive uma pielonefrite (infecção dos rins) e como ainda não tinha plano de saúde, fui ao Hospital de Clínicas. Lá passei por momentos muito difíceis, principalmente pela demora no atendimento e o medo de que aquilo pudesse prejudicar o desenvolvimento da minha filha. Tomar medicações fortes e não podê-la proteger, mesmo estando dentro de mim, foi um soco na alma.  
 Em meio ao medo e a preocupação, comecei a pedir indicação de obstetras aos profissionais de saúde que me atendiam. O nome mais recorrente foi: Cristiano Salazar. Por ser muito requisitado, ele só teria espaço na agenda em 01 mês, o que seria perfeito, já que teria a liberação do plano de saúde neste mesmo período. 
 Nisto, já havia completado 05 meses e, devido à pielonefrite, estava em licença saúde desde o 3º para o 4º mês de gestação.  
 Lembro que no dia do atendimento eu estava sorridente, que é como me protejo habitualmente, mas apreensiva. Entrei no consultório e posso dizer que foi paixão a 1ª informação. Fui tratada como gestante, que tem como característica uma deficiência, na qual não pode ser ignorada, mas também não sobressalente a minha identidade de gênero.  
 O plano desde o início foi continuar no parto normal e minha saúde estava ótima. Pensávamos primeiramente em um parto onde nossas mães pudessem estar presentes. Escolhemos o Hospital Mãe de Deus pela forma em que a equipe nos acolheu durante uma 1ª visita, pelo fato de permitir a participação de doula (minha sogra é doula) e ter uma sala de parto grande, o que facilitaria também a entrada da minha mãe. Com o passar do tempo recuamos, pois percebemos que este seria um momento nosso, em que queríamos estar conectados apenas a nós mesmos (e, por conhecer toda a equipe, sabíamos que eles respeitariam este momento tão nosso). 
 Na reta final da gestação, quando completei as 36 semanas, minhas dores de cabeça se intensificaram, o que pode indicar aumento de pressão para pessoas com lesão medular. 

A única mulher que tive acesso com uma lesão semelhante a minha (tetraplegia – nível C5/C6) que teve parto normal me passou o telefone de sua obstetra e, ao conversar com a médica, fui informada que foi necessário realizar a manobra de Kristeller (que é uma pressão feita com força na parte superior do útero para tornar mais rápida a saída do bebê). O obstetra que me acompanhava informou que não fazia este procedimento, já que ele pode causar lesões graves, como fratura de costelas e descolamento da placenta na mãe e/ou traumas encefálicos no bebê. 
 Com a dor que me deixava insegura, a informação sobre a manobra, riscos mínimos, mas existentes, na resposta da anestesia e muita conversa e esclarecimentos, ao passar das 39 semanas, precisei fazer a escolha mais difícil da vida, preconizar ou deixar que o nascimento da minha filha fosse natural. 
 O meu egoísmo em escutar os sinais do meu corpo e querer estar inteira no momento em que me tornaria efetivamente mãe, falou mais alto. No dia anterior à cesárea, perdi o tampão (uma camada de muco que fecha a entrada do colo do útero) e com ele experimentei um pouco da cumplicidade entre mãe filha, como se a Lara me dissesse: “mamãe eu já estava querendo chegar mesmo!”. 
 Fui julgada e apoiada, mas hoje, quando me olham atravessado ao falar sobre minha cesárea agendada, só consigo lembrar a cumplicidade do meu marido e da equipe, da minha segurança e serenidade, do cd rodando com as músicas que escutávamos durante a gestação e do cordão umbilical da Lara sendo cortado somente após ter parado de pulsar. Lembro de cheirar, beijar e dizer “a mamãe te ama, minha filha! Eu estou aqui!”.  

Minha cesárea não representa dor ou frustração, mas uma escolha que, por mais que possa não ser considerada “perfeita”, foi a que, conscientemente, dei conta de fazer... e não me arrependo!