segunda-feira, 11 de maio de 2015

Deficiência, maternidade e o empoderamento da mulher

Na imagem vemos Vitória sorrindo e sua filha Lara.
Ontem dia das mães um dia dedicado á homenagear todas as mães e nossa homenagem á todas as mulheres que nos acompanham e que todo dia seja nosso dia.
Mulheres com e sem deficiência parabéns por este dia mas principalmente poder viver este momento tão lindo na vida de uma mulher que é ser MÃE.

Matéria escrita por Vitória Bernardes colunista do Jornal meu bairro. 

Fui convidada pelo Meu Bairro a participar do evento Mulheres que Inspiram, edição Dia das Mães. Além da oportunidade de falar sobre minha filha e nossa relação, o convite despertou em mim diferentes reflexões.

Com o acidente, a maternidade passou a não ser um sonho real, um objetivo. Não sei se isto ocorreu por eu perceber outras possibilidades para minha vida ou pela impossibilidade das pessoas me olharem como um ser capaz de cuidar. Ao me deparar com um corpo que não possuía mais plena autonomia física, minha autonomia emocional também parecia, em um primeiro momento, não mais me pertencer. De um instante ao outro o meu corpo era um estranho, que de forma autoritária e desconexa era apresentado a mim pelos médicos. Minhas identidades foram resumidas à tetraplegia.

O contato com o Sarah, hospital de reabilitação onde permaneci 2 meses, rompeu com muito disso, mas o que são 2 meses frente aos permanentes olhares e pessoas que te entregam panfletos de igreja ou indicam promissores tratamentos para cura, como se para dar continuidade à vida fosse necessário se “normalizar”?

Em meio a estes questionamentos, relembrei minha infância e o quanto aprendi a maternar desde pequena, reproduzindo o cuidado e o amor recebido por minha mãe, a mulher que mais me inspira. Ao relembrar do prazer que sentia em contar histórias, brincar e cuidar de minhas primas, por exemplo, lembrei também o quanto via a maternidade como uma alternativa. Mas, mesmo assim, o olhar do outro me dizia que não, que isto não poderia fazer parte de mim.

Ao engravidar travei uma batalha interna entre o papel destinado a mim e ao que de fato gostaria de exercer. Lembro-me do dia em que ouvi pela primeira vez o coração da minha filha… Senti naquele instante que meu desejo era maior que qualquer limite imposto. A Lara é resultado de uma escolha consciente.

Eu já havia conseguido compreender e a me identificar com minha deficiência, mas foi ao ser mãe que passei a ter uma relação mais plena com meu corpo. Ver que ele é capaz de gerar e nutrir uma vida me maravilhou e rompeu com a ideia de incapacidade. Ao ter uma filha passei a questionar e a me desprender do machismo que nos fere e limita. O prazer de nos descobrirmos uma com a outra me fez experimentar uma cumplicidade única. Compreendi que o meu corpo me pertence e aprendi a usá-lo da forma que desejo, seja amamentando, exercendo minha sexualidade ou/e, principalmente, bancando minhas escolhas. Foi através da Lara que ressignifiquei minha própria existência e compreendi meu papel enquanto mulher.

Muitas questões envolvem a maternidade, entre elas a insegurança e a complexidade/responsabilidade em “guiar” uma vida. A deficiência fez (faz) parte de muitas destas inseguranças, mas pelo jeito observador da Lara, vejo que ela traz as soluções antes mesmo da existência dos problemas. Tudo isso de forma encantadoramente leve e bela.

Para finalizar, retomo o nome do evento para dizer: inspire-se em sua força, em seu corpo e em todas as possibilidades – que podem incluir a maternidade, mas não se limitam a ela – que ser mulher lhe permite. Tu és dona de tua história e pode escolher teus próprios caminhos.

Fonte:Meu Bairro.

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