Carta ao Presidente da COP30 – Políticas Públicas, Inclusão das Mulheres, Interseccionalidade e Deficiência
Movimento Feminista Inclusivass
Senhor Presidente André,
O Movimento Feminista Inclusivass, que atua há 11 anos na defesa dos direitos das mulheres com deficiência no Brasil, vem por meio desta carta contribuir para o debate sobre políticas públicas inclusivas no contexto da COP30.
As mulheres com deficiência enfrentam múltiplas barreiras no país: uma discriminação duplamente cruzada (gênero + deficiência), exclusão de oportunidades de trabalho, menor renda média, invisibilidade política e social. Nos desastres climáticos e emergências ambientais, essas desigualdades se agravam — abrigos não acessíveis, ausência de protocolos específicos e informações inacessíveis (para pessoas com deficiência visual, auditiva ou intelectual) aumentam o risco e a exclusão.
Além disso, há uma falta de dados e indicadores que cruzem deficiência e gênero. Os sistemas de monitoramento climático raramente captam os impactos diferenciados sobre mulheres com deficiência — por deficiência, localização, raça ou classe social — o que impede políticas eficazes. Muitos impactos permanecem invisíveis porque não há registro nem reconhecimento da deficiência nos boletins e nas comunicações oficiais.
Também persistem barreiras estruturais, como o capacitismo, o estigma social e a falta de acessibilidade nos espaços de decisão e execução de políticas públicas. A infraestrutura, o transporte, a comunicação e a assistência em saúde, ainda excludentes, tornam o enfrentamento da crise climática ainda mais pesado para essas mulheres.
Diante desse cenário, propomos que a presidência da COP30 priorize as seguintes ações e soluções inclusivas, especialmente com base na realidade do Pampa e das mulheres com deficiência que nele vivem:
1. Protocolos de emergência com acessibilidade inclusiva
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Aprovar e implementar lei (como o PL 1274/2024) que obrigue a Defesa Civil a incluir protocolos específicos para pessoas com deficiência em situações de emergência e desastres, com abrigos acessíveis, apoio assistivo e comunicação em formatos acessíveis.
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Criar uma Central do Direito à Acessibilidade Climática, com formação contínua de equipes de resposta (Defesa Civil, saúde, segurança) em perspectiva de gênero e deficiência.
2. Integração de gênero + deficiência nas políticas climáticas
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Incluir mulheres com deficiência explicitamente nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e nos Planos Nacionais de Adaptação.
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Garantir que ações de mitigação (como agroecologia e agricultura sustentável) considerem a acessibilidade e o protagonismo das mulheres com deficiência.
3. Fortalecimento da agricultura familiar sustentável e inclusiva
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Apoio técnico e financeiro para práticas agroecológicas acessíveis, que fortaleçam a autonomia das mulheres com deficiência no Pampa.
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Proteger ecossistemas e territórios tradicionais, com licenciamento ambiental rigoroso e fiscalização participativa.
4. Empoderamento socioeconômico e participação política
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Criar programas de geração de renda e inclusão digital para mulheres com deficiência no meio rural, garantindo acesso a crédito, capacitação e tecnologias assistivas.
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Assegurar representação nos espaços de decisão climática locais, regionais e nacionais.
5. Produção e uso de dados desagregados
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Incluir dados desagregados por gênero, deficiência, raça e território nos sistemas de monitoramento climático e social.
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Realizar pesquisas regionais no Pampa para mapear a presença e as necessidades das mulheres com deficiência em comunidades rurais e tradicionais.
6. Comunicação e educação inclusiva
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Produzir materiais acessíveis sobre prevenção de riscos e mudanças climáticas (em Libras, braile, áudio e linguagem simples).
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Promover campanhas anticapacitistas e de conscientização sobre a interseccionalidade entre deficiência e clima.
7. Financiamento climático inclusivo
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Destinar recursos específicos de fundos climáticos nacionais e internacionais para ações lideradas por mulheres com deficiência.
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Facilitar acesso a microcrédito, seguros agrícolas adaptados e tecnologias acessíveis.
8. Legislação e direitos humanos como base
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Garantir que a Lei Brasileira de Inclusão e as convenções internacionais sobre os direitos das pessoas com deficiência orientem as políticas climáticas.
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Assegurar a proteção dos territórios indígenas e tradicionais do Pampa, reconhecendo também as mulheres com deficiência que vivem nesses espaços.
As propostas do Movimento Feminista Inclusivass foram encaminhadas à Presidência da COP30, com o compromisso de fortalecer uma agenda verdadeiramente inclusiva, interseccional e feminista, que reconheça o papel das mulheres com deficiência na defesa do meio ambiente e da justiça climática.
Com respeito e esperança,
Movimento Feminista Inclusivass
11 anos de luta pela visibilidade e pelos direitos das mulheres com deficiência no Brasil.
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