Nosso primeiro texto publicado no Jornal Brasil de Fato RS.
O que vemos nas últimas semanas escancara um silêncio cúmplice diante da misoginia um ódio às mulheres que tem se fortalecido, transformando-se em mercadoria para o capitalismo digital. Homens cometem crimes bárbaros contra mulheres e, ainda assim, viram manchete, ganham visibilidade, engajamento e até seguidores. Enquanto isso, as vítimas são colocadas de lado, apagadas ou reduzidas a notas rápidas, e os algoritmos continuam impulsionando misóginos que lucram disseminando ódio em plataformas e grupos.
Os crimes recentes, que ceifam vidas, mutilam corpos e incluem violência sexual extrema, mostram como a misoginia virou espetáculo, palco do terror. Feminicidas e agressores ganham fama às custas de mulheres mortas, violentadas e, quando sobrevivem, muitas vezes mutiladas.
É o caso de Taynara Souza Santos, atropelada pelo ex-companheiro e arrastada por mais de um quilômetro. Ela teve as duas pernas amputadas pela gravidade dos ferimentos mais uma mulher que se torna pessoa com deficiência após uma tentativa brutal de feminicídio. Uma sobrevivente da violência que tenta nos destruir física, emocional e socialmente.
E o mais revoltante é perceber como, mesmo diante dessa crueldade, a sociedade insiste em naturalizar a misoginia. Surgem justificativas, insinuações, dúvidas sobre a vítima. A violência extrema é tratada como tragédia isolada, quando na verdade é fruto direto do machismo estrutural que organiza nossa sociedade.
As plataformas digitais, que lucram com o ódio viralizado, tornam-se cúmplices ao permitir que discursos antifeministas circulem com força, criando comunidades inteiras dedicadas a atacar, humilhar, perseguir e incentivar violência contra mulheres. A misoginia virou conteúdo, entretenimento, negócio e isso exige que nossa luta enfrente não só os agressores, mas também os sistemas que alimentam e amplificam essa violência.
Histórias como a de Taynara seguem se repetindo. As que sobrevivem carregam marcas físicas e emocionais de uma violência que tenta nos calar, controlar e destruir. E, quando sobrevivem, enfrentam também o capacitismo, o abandono do Estado e a invisibilidade da mídia.
Não podemos permitir que a misoginia continue sendo espetáculo, e que a violência contra nós seja monetizada.
Nosso compromisso é com a memória das que se foram, com a proteção das que ainda vivem e com a luta das que sobrevivem. Seguimos denunciando, nomeando e enfrentando.
Porque nossas vidas não são mercadoria e nossos corpos não são território de violência.
Movimento Feminista Inclusivass
Texto publicado na Coluna das Inclusivass no Jornal Brasil de Fato, em 06/12/2025