quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Apresentação dos Atletas Paralímpicos apoiados pela Prefeitura Porto Alegre


Amanhã a INCLUSIVASS Cristina Mazuhy que no grupo representa o Judo Paralímpico para Mulheres com Deficiencia convida á todos para este evento e estará palestrando sobre a importância do esporte para as pessoas com deficiência.

O secretario Raul Coehn, da SMACIS (Secretaria de Acessibilidade e Inclusão Social) convida a todos para o Evento "Apresentação dos Atletas Paralímpicos apoiados pela Prefeitura, visando preparação para às Paralimpiadas de 2016",
será:
Local: CIEE-RS
Sala 1
Data: 06/02/2015
Endereço: Dom Pedro II, 861 - Porto Alegre - RS
Fone: 51 3363-1111
Horário: 10 horas às 11 horas

A Secretaria Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social – Smacis recebeu do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (Comdepa) a indicação dos atletas paralímpicos contemplados e seus respectivos suplentes que serão apoiados pela prefeitura. A seleção foi feita a partir de edital direcionado a entidades de apoio, para que indicassem os atletas. Serão beneficiados 15 atletas, com valor mensal de R$ 1.000,00 para cada, durante 10 meses, totalizando R$ 150.000,00. A ação busca apoiar jovens para as os Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. 
 
Atletas Selecionados:
a) RS Paradesporto:
I. Ingrid Heger - Atletismo
II. Vitor Hugo Eloy - Basquete
III. Vanessa Molon - Natação
IV. Altemir Luis de Oliveira - Atletismo
V. Aser Mateus de Almeida Ramos - Atletismo
VI. Adna Lima da Rosa - Natação
VII. Ezequiel dos Santos Pereira - Basquete
 
b) Iate Clube Guaíba:
I. Rafael Ferreira Correa - Vela Adaptada
 
c) Associação de Servidores da Área de Segurança, Portadores de Deficiências do Estado do Rio Grande do Sul - Asasepode:
I. Geraldo Von Rozenthal – Tiro
II. Jovane Silva Guissone – Esgrima
III. Mônica da Silva Santos – Esgrima
IV. Vanderson Luis da Silva Chaves - Esgrima
 
d) Associação de Cegos do Rio Grande do Sul - Acergs:
I. Luíza Guterres Oliano - Judô
II. Matheus Baldin de Lucas – Judô
III. Wellman Klinger Josic Melo Brito – Judô
 
Atletas Suplentes:
a) RS Paradesporto:
I. Ronaldo Germano da Silva - Atletismo
II. Bruna Andeglieri Giacomin - Atletismo
III. Paulo Alexandre Ribeiro da Rosa - Atletismo
IV. Lenin Garlet Prado - Atletismo
V. Heron Carlos Santos dos Anjos - Basquete
VI. Raphaela de Souza Matos - Atletismo
VII. Cintia Florit Moura - Basquete
VIII. Luiz Claudio Portinho Dias - Basquete
 
b) Associação de Servidores da Área de Segurança, Portadores de Deficiências do Estado do Rio Grande do Sul - Asasepode:
I. Daiane Peron - Esgrima
II. Fabio Luis Damasceno - Esgrima
III. Mauricio Stempniak de Lima - Esgrima
IV. Rudinéia Mânica - Esgrima
V. Suelen Rodolpho - Esgrima
 
c) Associação de Cegos do Rio Grande do Sul - Acergs:
I. Maicon Tadler – Judô
II. Giovana Pilla - Judô
III. Helio Roberto Passos – Judô
IV. Cristina Mazuhy Antunes – Judô
V. Glaiton Winckler da Silva – Judô
VI. Rafael Martins dos Santos – Judô
VII. Vanderlei Gomes Lopes - Judô

UMA CIDADE ACESSÍVEL! Por: Liza Cenci.

  
Foto de Liza Cenci.

 
UMA CIDADE ACESSÍVEL!
     

Em plena era da modernidade nos deparamos com barreiras a serem vencidas, hoje vejo a fúria nos olhos de quem diariamente luta e declara guerra a vida urbana. Em uma capital como Porto Alegre esperamos mais, DIGNIDADE, mais RESPEITO, mais EDUCAÇÃO, mais aceitação do próximo. Fazemos total distinção com as pessoas que nos rodeiam, seja no âmbito do trabalho, familiar e lazer, esquecemos sempre que não somos únicos e que onde termina nosso limite, começa o limite do nosso próximo. Não necessitamos de pena do próximo, apenas respeito e reconhecimento.

Acessibilidade significa permitir de forma igual, que pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, participem de atividades incluindo serviços, informações, cultura, turismo, acesso público e privado. Que todos possam ter acesso a TUDO, sem restrições.

A meta é que para a copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, aeroportos, estabelecimentos comerciais, ambientes públicos e privados possam receber seus turistas especiais sem passar por constrangimentos, dar aos brasileiros a possibilidade de usufruir seu direito de ir e vir. Incluindo sinalização das ruas, comunicação, o acesso fácil qualquer órgão público, o interesse é do município, do nosso Estado do nosso país. Dever de todos nos Educar nossa sociedade.

Ouvem-se metas, planos... Orientação, legislação se tem, o que está faltando mesmo é a fiscalização queremos mesmo é para ontem o direito de ir e vir garantido na Constituição Federal, em condições de igualdade com outras pessoas, que possamos ver com garantia a inclusão total.

Dentro do contexto “Acessibilidade”, vê o quanto nossas ruas e avenidas aparecem desafiadoras no seu dia a dia. Calçadas com crateras, buracos, buraquinhos, pedras soltas, calçadas sem rampas, orelhões no meio da calçada, carros em cima das calçadas, são milhares as irregularidades.

Hoje 24,5 milhões de brasileiros com deficiência, segundo os dados do IBGE, lutam para ter o direito de ter uma vida normal, trabalhar, estudar, ter uma vida social e cultural livre de preconceito. Quando entro em certos lugares ainda sinto aqueles olhares de reprovação. Pergunto-me onde está a DIGNIDADE? Escolhi eu sentar estar sentada em uma cadeira de rodas, escolhi eu sofrer com esses olhares reprovadores, por querer ter acesso à que tenho direito, onde fica minha dignidade em poder frequentar um restaurante, uma loja que não conheço, onde esta o direito de IR e VIR?




Liza Cenci



Coordenadora Movimento SuperAção RS

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Pessoas com Deficiência e HIV/Aids

Símbolo da Pessoa com Deficiência e a símbolo masculino e feminino interligado a ele.


07/03/2009 -                                                                                                  Ana Rita de Paula (*),
                                                                                                                      Fernanda Sodelli (**),
                                                                                                                      Gláucia Farias (***),
                                                                                                                      Marta Gil (****),
                                                                                                                      Mina Regen (*****) e
                                                                                                                      Sérgio Meresman.
Pessoas com deficiência e HIV/Aids:interfaces e perspectivas: uma pesquisa exploratória.

Pensei: hoje é um dia que dá prá abrir uma janelinha!


Dedicamos este trabalho à Marina, que respondeu assim ao ser indagada porque decidiu participar do Grupo Focal e a todas as pessoas com deficiência, esperando que este texto se junte a sua aspiração.

Como tudo começou.
O Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas foi contratado pelo Programa Municipal de DST/Aids, da Secretaria Municipal da Saúde, em setembro de 2007, para pesquisar a situação de vulnerabilidade das pessoas com deficiência (PcD) na cidade de São Paulo em relação ao HIV/aids (1), pois este é um tema importante e infelizmente ainda bastante desconhecido.

O desconhecimento abrange aspectos quantitativos (como a prevalência do HIV/aids neste segmento, que no Brasil corresponde a aproximadamente 27 milhões de pessoas (2) ) e aspectos de natureza comportamental, representações simbólicas e temas correlatos. Há muito a conhecer e pesquisar. Como bem enfatizou o Dr. Dráurio Barreira (médico epidemiologista do Instituto de Saúde), antes de pesquisar aspectos referentes à prevalência, há que conhecer comportamentos ligados ao exercício da sexualidade e que são componentes de situações de vulnerabilidade. Esse foi o norte adotado por esta pesquisa.

Ao propor a pesquisa, o Programa Municipal de DST/Aids atendeu uma antiga reivindicação do movimento das pessoas com deficiência, a de conhecer suas necessidades no que se refere à saúde e especificamente em relação ao HIV/aids, para elaborar ações e políticas públicas condizentes.

Essa não foi a primeira ação do Programa neste sentido; destacamos algumas, como a produção de materiais educativos sobre a prevenção do HIV/aids, com a participação do Conselho Municipal da Pessoa Deficiente (CMPD), de São Paulo e de representantes de entidades da sociedade civil (2002), a realização do I Seminário Municipal da Saúde da Mulher com Deficiência, "Direito à Saúde com Dignidade: Sonho ou Realidade" - Coordenadoria de Participação Popular, Coordenadoria Especial da Mulher e CMPD, em parceria com as áreas técnicas da Saúde da Pessoa Deficiente e DST/Aids (SMS/SP), em 2002 e a II Conferência Municipal de DST/AIDS, em 2005, quando foram aprovadas resoluções voltadas para a prevenção às DST/aids em pessoas com deficiência, incluindo a necessidade de pesquisas para conhecer a dimensão da presença do vírus entre estas pessoas e de oferecer qualificação técnica para que PcD possam atuar como Agentes de Prevenção.

Portanto, a pesquisa a que nos referimos, que recebeu o título de "Pessoas com deficiência e HIV/aids: interfaces e perspectivas" (3) representou um passo adiante nesta trajetória rumo ao conhecimento da problemática inserida na confluência destes temas.

A pesquisa foi iniciada pelo IS - Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Porém, por questões administrativas internas ao órgão, a atividade foi interrompida e o Amankay foi contratado, em virtude de sua experiência anterior com este tema e deu continuidade ao processo já em andamento. A equipe permaneceu, com exceção de um Agente de Pesquisa.
HIV/aids e Deficiência: um tema a ser conhecido.

Apesar do empenho das organizações de pessoas com deficiência que lutam há anos, em nosso país - e em outros - pelo seu direito de exercer a sexualidade com dignidade e segurança, elas ainda são freqüentemente excluídas dos programas de prevenção e atenção ao HIV/aids.

Dentre os fatores que contribuem para que isso ocorra, destacamos:
  1. Permanência de tabus: pessoas com deficiência "não" são sexualmente ativas e, portanto, "não" estão sujeitas a adquirir o vírus;
  2. Dificuldades de articulação entre pessoas com deficiência, instituições da área e os programas de saúde;
  3. Dificuldade de acesso aos meios de prevenção;
  4. Dificuldade de acesso aos espaços sociais onde circula a informação;
  5. Organizações de pessoas com deficiência nem sempre são conhecidas e, portanto, não estão representadas nos espaços de discussão e construção de políticas e programas de prevenção e promoção da saúde.
Apresentando a pesquisa.
Em traços gerais, este é o cenário onde se inseriu nosso trabalho, que se caracteriza como uma pesquisa-ação, exploratória, de natureza qualitativa, que identificou conteúdos relevantes visando desdobramentos posteriores.

Entrevistamos pessoas com deficiência física, visual e auditiva, maiores de 18 anos e residentes no Município de São Paulo. As pessoas com deficiência intelectual não fizeram parte desta Pesquisa, por decisão do Programa Municipal de DST/Aids.

O trabalho começou em setembro de 2007; o Relatório final foi entregue em setembro de 2008.

Essa pesquisa tem uma característica pioneira; ela traz provavelmente o primeiro grupo de depoimentos de PcD recolhidos sobre este tema na América Latina.

Objetivo geral.
Identificar condições de vulnerabilidade ao HIV/aids nesse segmento, identificando conhecimentos quanto à prática da sexualidade, ao exercício do sexo seguro e atitudes de prevenção adotadas (ou não), buscando subsidiar uma política pública com ações de prevenção, controle e ampliação do acesso aos serviços de atendimento às DST/aids da rede municipal de saúde, inclusive à testagem sorológica.

Objetivos específicos.

  1. Oferecer às pessoas contatadas através da Pesquisa facilidades que possibilitem a realização de exames e testes para as principais DST e para o HIV, para aqueles que assim o desejarem, analisando suas reações frente à oferta;
  2. Levantar dados e indícios sobre práticas sexuais para a elaboração futura de pesquisa sobre a prevalência do HIV/aids entre pessoas com deficiência no município de São Paulo;
  3. Identificar condições de vulnerabilidade às DST/aids segundo o tipo de deficiência apresentada e levantar hipóteses sobre seus possíveis determinantes;
  4. Detectar atitudes e posturas que configurem dificuldades e obstáculos ao atendimento das pessoas com deficiência nas Unidades da rede municipal especializada em DST/aids que foram inicialmente selecionadas como referência e propor alternativas;
  5. Propor recomendações, no Relatório Final, sobre o planejamento e execução das atividades de prevenção e de aprofundamento de estudos, identificados como necessários e adequados a cada tipo de deficiência.
Método.
A metodologia escolhida foi a da Pesquisa-ação, tomando como base o texto "A pesquisa-ação como método para reconstrução de um processo de avaliação de desempenho", de Vera Lucia Mira Gonçalves, Maria Madalena Januário Leite e Maria Helena Trench Ciampone (4) por reunir diversas técnicas de pesquisa social, com as quais se estabelece uma estrutura coletiva, participativa e ativa na coleta de informação, envolvendo a participação das pessoas envolvidas na temática estudada.

O trabalho de campo utilizou técnicas qualitativas, principalmente Entrevistas em profundidade e Grupos Focais, pois já demonstraram sua adequação para a compreensão do comportamento das pessoas, não só no seu processo de formação de opinião e tomada de decisão individual, mas enquanto participantes de grupos sociais sujeitos a múltiplas influências na formação e mudança de atitudes.

Posteriormente, ao conhecer o trabalho de Maria de Nazareth A. Hassen (5), concluímos que podemos considerar os Grupos Focais realizados como sendo de "intervenção", porque foi exatamente essa a nossa compreensão e forma de atuação:

Nesta pesquisa adicionamos ao grupo focal o caráter de intervenção, e não somente de pesquisa. Por essa razão, chamamos a técnica de Grupo Focal de Intervenção (GFI), baseada na leitura do Projeto Sexualidade e reprodução. Nos GFI, as opiniões são levantadas, mas há também um caráter educativo e informativo (negrito nosso). Assim, segundo nossa metodologia, o mediador deve estar capacitado a tirar dúvidas específicas sobre os temas concretos ou deve ser auxiliado por quem o seja (médico, enfermeiro, professor de biologia ou qualquer pessoa reconhecidamente informada). Poderá utilizar livros, cartilhas e cartazes sobre os temas,em especial quando se trata de questões de saúde reprodutiva.

Os primeiros meses foram dedicados à formação dos Agentes de Pesquisa, pois adotamos a premissa de trabalhar com pares.

As razões que levaram a essa decisão foram:
Respeito ao lema do movimento: "Nada sobre nós, sem nós";
Oferecer oportunidade de formação, de exercício profissional e empoderamento;
Facilitar e enriquecer o contato com o público-alvo da pesquisa;
Esta forma de ação é utilizada com excelentes resultados em outros grupos "minoritários".

Fizeram parte da equipe dois cadeirantes, sendo uma moça com liderança comunitária na região leste da cidade e um rapaz estudante universitário, uma moça surda oralizada, usuária de Libras (língua brasileira de sinais) e atuante na comunidade surda e um rapaz cego, professor de informática, de xadrez e poeta.

Os Agentes visitaram Instituições Especializadas e locais de convivência para convidar pessoas com o perfil desejado para participar de Grupos Focais e entrevistas em profundidade. Estes contatos já constituíram uma troca de informações e podem ser considerados uma prestação de serviços.

Eles também visitaram toda a rede municipal de serviços especializados em DST/aids, para conhecer as condições de acesso ambiental, atitudinal e programático que oferecem às PcD.

Durante seis meses a equipe técnica do Amankay, juntamente com um integrante do Programa de DST/Aids e uma médica do CTA Henfil realizaram reuniões semanais com os Agentes de Pesquisa, discutindo temas relacionados à prevenção, sexualidade e vulnerabilidade às DST/aids, além da produção coletiva dos instrumentos de pesquisa, que seriam utilizados por eles.
Produção coletiva de instrumentos.
Abaixo, relacionamos os principais instrumentos elaborados:

  • Carta de apresentação dos Agentes para as Instituições a serem visitadas;
  • Carta-convite às Instituições para participação de seus usuários na Pesquisa;
  • Roteiro de visita às Instituições;
  • Roteiro de relatório das visitas às Instituições;
  • Roteiro de visitas aos Serviços de DST/aids da capital;
  • Roteiro de relatório das visitas aos Serviços de DST/aids;
  • Filipetas com convite à participação nos Grupos Focais que foram distribuídas durante a Reatech 2008 e a passeata do Movimento Superação na Av. Paulista;
  • Lista de interessados em participar dos Grupos Focais;
  • Lista de presença às reuniões nas Instituições;
  • Lista de presença às reuniões dos Grupos Focais;
  • Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sobre participação e gravação em áudio nos Grupos Focais;
  • Termo de Autorização para uso da imagem nos Grupos Focais;
  • Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para coleta de sangue após reunião dos Grupos Focais.
  • Os Termos de Consentimento foram impressos em braile e escritos de forma simplificada, para os surdos.

Todo o processo de formação dos Agentes foi realizado por meio de análise e discussão de textos, elaboração de procedimentos para cada atividade, técnicas de dinâmica de grupo, dramatização de situações e muito diálogo numa relação horizontal, respeitando a condição e o tempo de cada um.

Após cada reunião, desenvolvemos a sistemática de redigir memórias em rodízio pelos Agentes e complementações de toda a equipe na reunião seguinte. Esse exercício foi importante para a apropriação e fixação de estratégias e conceitos, além de contribuir para aprimorar a capacidade de comunicação dos Agentes. Na reunião de encerramento do trabalho esse foi um ponto lembrado espontaneamente por eles.

O processo de trabalho conjunto, que permeou todos os momentos e atividades da pesquisa merece ser destacado, pois é um dos fatores que explicam a riqueza do conteúdo produzido.
Grupos Focais.
Em geral, os Grupos Focais acontecem durante diversas reuniões, permitindo que os participantes se conheçam e aprofundem a discussão do tema. Este foi um ponto bastante debatido e, ao final, optamos por realizar uma única reunião, considerando as dificuldades de locomoção e de acessibilidade apresentadas pela cidade de São Paulo.

A decisão de condensar as atividades deu origem a outra estratégia: divisão da reunião em três momentos distintos:
Primeiro: coleta dos dados (grupo focal propriamente dito), através do roteiro e anotação dos questionamentos e dúvidas pelo observador;
Segundo: o profissional de aconselhamento do serviço apresentava-se e esclarecia as dúvidas, apresentando material educativo (momento informativo). Ao término desta etapa, os serviços de saúde ofereceram material impresso, preservativos masculinos e gel lubrificante;
Terceiro: apresentação dos serviços disponibilizados no local e oferecimento da testagem sorológica.

Portanto, é adequado enquadrá-los como Grupos Focais de Intervenção, segundo Hassen.

Foram realizados dois Grupos Focais para cada tipo de deficiência contemplado na pesquisa. Dada a oferta de testagem sorológica, os locais mais adequados foram os serviços da rede municipal especializada.

Critérios de seleção dos serviços:Condições de acessibilidade física, de acordo com o tipo de deficiência dos participantes de cada grupo;
Localização geográfica do serviço (Zonas Centro, Leste, Oeste e Sul);
Receptividade dos Gerentes.

Os serviços selecionados foram:CTA Henfil (centro);
CTA Sérgio Arouca (Leste);
CTA Santo Amaro (Sul);
SAE Butantã (Oeste).
Divulgação dos Grupos Focais.

Para divulgar a realização da pesquisa e convidar as PcD a participar dos Grupos Focais - que contaram com a presença de 42 pessoas no total - utilizamos todos os meios de comunicação ao nosso alcance, trabalhando em rede, o que significa que cada contato levou a vários outros. É possível quantificar o primeiro nível de contatos, mas não os subseqüentes. Essa é a maneira mais eficiente, eficaz e rápida de potencializar ações e disseminar informações.

Os Agentes de Pesquisa e a Equipe Técnica do Amankay utilizaram as seguintes estratégias:

Contato com 21 pessoas de referência na área da Deficiência, que atuaram como multiplicadoras, acessando suas redes de contatos pessoais e institucionais.

Contato com 25 Órgãos públicos e entidades de representação ou prestação de serviços
Listas temáticas de discussão no campo da Deficiência.

O convite para participar dos Grupos Focais foi veiculado por 4 vezes no Boletim Novidades do Dia, o de maior abrangência no Brasil. Ele é enviado para 4.913 assinantes (pessoas físicas, residentes no Brasil e em Portugal) e para 32 grupos e listas (relação abaixo), inclusive para Portugal, abrangendo o território nacional.

Pode ser que o alcance seja ainda maior, pois há pessoas que repassam para outras. Aí é impossível calcular.
Outras listas de discussão.

Mãe de Deficiente; Educadores; Coletivo de Mulheres com Deficiência; Movimento de Vida Independente
Reatech 2008.

O Amankay imprimiu e distribuiu 2.000 folhetos na Feira.
Listas de interessados.
O Amankay coletou nomes e telefones para contato de interessados na Passeata da Superação (realizada em 3 de Dezembro na Av. Paulista) e na Reatech. Todas essas pessoas foram contatadas por telefonemas, posteriormente, feitos de manhã, tarde e noite, até conseguir falar com a pessoa que se declarou interessada.

Perfil dos participantes dos Grupos Focais.
A pesquisa abrangeu 42 pessoas, dentre os participantes de Grupos Focais e Entrevistas em profundidade. Destes, 22 eram do sexo feminino e 20 do sexo masculino.

Quanto à distribuição por tipo de deficiência, 21 tinham deficiência física, 15 eram surdos e 6 tinham deficiência visual.

Quanto ao estado civil, 15 eram solteiros, 9 eram casados (6) com filhos, 6 eram casados sem filhos, 3 se declararam separados sem filhos, 1 era viúvo e sobre 8 não temos informações.

As tabelas abaixo mostram a distribuição dos participantes por tipo de deficiência, local do Grupo e realização do teste sorológico. A outra mostra a divisão por sexo.

Vale destacar a alta porcentagem dos que se dispuseram a fazer o teste: 31 participantes (74%). Pelo menos cinco alegaram já haver realizado o teste anteriormente, em outros locais.
Distribuição dos participantes dos Grupos Focais por tipo de deficiência, local e realização de teste.Tipo deficiênciaServiçoPresentesTeste
DF SAE Butantã 7 3
DF Sergio Arouca (1) 14 13
DV Henfil 2 0
DV Henfil 4 4
DA Henfil 8 4
DA Santo Amaro 7 7
Total 42 31


(1) Das 14 pessoas que fizeram o teste no CTA Sérgio Arouca, uma já era soropositiva, mas mesmo assim quis fazer o teste.
Distribuição dos participantes dos Grupos Focais por sexoTipo deficiênciaServiçoMasculinoFeminino
DF SAE Butantã 4 3
DF Sergio Arouca 6 8
DV Henfil 1 1
DA Henfil 4 4
DA Santo Amaro 3 4
DV Henfil 2 2
Total 20 22

Situações de vulnerabilidade.
Vale a pena entender como o conceito de vulnerabilidade é entendido no campo da Saúde, pois ele é abrangente e pode ser aplicado a várias situações, como evidencia a definição abaixo:

Vulnerabilidade significa a capacidade do indivíduo ou do grupo social de decidir sobre sua situação de risco, estando diretamente associadas a fatores individuais, familiares, culturais, sociais, políticos, econômicos e biológicos (7).

Na publicação do Ministério da Saúde referente ao Marco Legal (8) encontramos este conceito

A noção de vulnerabilidade vem confirmar a visão de um homem plural, construído na sua diversidade a partir das suas diferenças, nas dimensões social, político-institucional e pessoal, e, a partir daí, identificar questões que podem aumentar o grau de vulnerabilidade dos indivíduos frente a riscos, tais como: questões de gênero cruzadas com raça/etnia e classe social, condições de vida; condições de saúde; acesso ou não à informação; insuficiência de políticas públicas em saúde e educação, etc.

Pesquisadores como J. Mann (in Ayres, 1999) e colaboradores procuraram articular os aspectos envolvidos no contágio pelo HIV, estabelecendo para tanto uma classificação de vulnerabilidade baseada em três eixos, que são interligados: individual, social e programático ou institucional como seus principais determinantes.

O eixo individual diz respeito ao grau e qualidade de informação de que o indivíduo dispõe sobre certa questão, à capacidade de elaborar essas informações e incorporá-las ou não ao seu cotidiano. Com relação ao HIV/aids ainda acrescentamos as possibilidades efetivas do indivíduo de transformar estas informações em práticas protegidas e protetoras.

O eixo social fala sobre a obtenção de informações, as possibilidades de incorporá-las, que não dizem respeito somente ao indivíduo, como acesso a meios de comunicação, escolarização, disponibilidade de recursos materiais e outros, englobando aspectos sociais, políticos e culturais.

O eixo programático contempla recursos sociais existentes relacionados a programas nacionais, regionais e locais, que no caso do HIV/aids facilitem e disponibilizem, de modo efetivo e democrático, informações, insumos, materiais, e outros elementos necessários para que o indivíduo não se exponha ao HIV.

Assim, entendemos por vulnerabilidade desde a baixa auto-estima, falta de informação sobre os riscos à saúde e sentimento de exclusão (nível individual), até aspectos relacionados à inserção na sociedade, como baixa escolaridade, poucas oportunidades de renda própria e consumo, dificuldades de acesso aos serviços de saúde (nível social) e ao desenvolvimento de ações institucionais especificamente voltadas para o problema da aids como: informação e educação, saúde e serviços sociais e não discriminação em relação às pessoas com HIV e aids (nível programático).

Esses eixos foram identificados nas falas dos participantes dos Grupos Focais e nas entrevistas em profundidade.

Posteriormente, esse mesmo autor (Mann) retomou a questão da vulnerabilidade ao HIV/aids, inserindo-a de forma mais abrangente no marco conceitual da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é tomada como um "padrão-ouro" para a realização de diagnósticos de vulnerabilidade e correspondente definição de objetivos e estratégias para a sua redução.

Esta perspectiva revela-se atualizada e adequada, uma vez que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada pelo Brasil e incorporada ao ordenamento jurídico como Decreto legislativo 186/2008 tem seu embasamento nessa Declaração e, devido ao seu status de emenda constitucional, é ela quem balizará as Políticas Públicas e ações, garantindo os direitos, não apenas no que se refere ao exercício da sexualidade e dos direitos sexuais e reprodutivos, mas também em outras esferas da vida das pessoas com deficiência.
Constatações preliminares.

A temática referente ao exercício da sexualidade ainda é pouco debatida; o nível de informação sobre prevenção de DST/aids pode ser considerado baixo; os serviços especializados estão abertos a receber pessoas com deficiência, mas não estão capacitados e muitos não têm acessibilidade, contrariando a legislação vigente; é urgente formular políticas públicas específicas, pois este segmento representa 14,5% da população total.

Embora esta pesquisa seja qualitativa, ou seja, os dados coletados não nos autorizam a fazer inferências de natureza quantitativa, podemos dizer que os depoimentos coletados (9) são representativos, e estão alinhados com as hipóteses construídas nos ainda escassos estudos disponíveis(10), no que se refere à vulnerabilidade, situação compartilhada com pessoas sem deficiência, como a dificuldade de falar com os pais e vice-versa, a desconfiança recíproca com o pessoal da saúde e outras mais específicas (a superproteção da família, a negação da sexualidade, o acesso mais limitado ainda à informação apropriada).

Importa ressaltar:Apesar de toda a abertura em relação à sexualidade do ser humano em geral na nossa sociedade, ainda é bastante arraigado, tanto entre familiares quanto entre profissionais e educadores, o mito de que a sexualidade das pessoas com deficiência é, por natureza, intrinsecamente problemática e até patológica. Assim, geralmente o que solicitam são formas de "resolver algum problema" surgido em situações de convívio social e/ou de obter "receitas" para evitar ou restringir o surgimento de qualquer tipo de manifestação da sexualidade;
Dificilmente imaginam que essa pessoa possa, sequer, sentir desejo ou que seja capaz de se relacionar amorosa e sexualmente, casar e formar a sua família. Caso ela venha a verbalizar ou demonstrar de alguma forma essa vontade, tanto a família, como os profissionais ainda encontram grandes dificuldades para falar sobre o assunto, oferecer informações adequadas e propiciar oportunidades para que possa exercer seu direito de escolha amorosa e viver a sua sexualidade da melhor forma possível, realizando seus projetos de vida, como evidenciam os relatos a seguir:

Primeira menstruação: Prá mim tudo foi mais difícil; assim a primeira menstruação, minha mãe sempre teve vergonha de chegar e explicar. Como ela já vem da minha avó, ela achou que era a mesma coisa, como ela descobriu sozinha, ela achou que eu iria descobrir sozinha e assim já foi bem mais difícil (mulher com visão parcial, 40 anos (11));
Educação da mulher: Antigamente, tem uma coisa boa que se diz de se preservar a mulher, sempre foi muito colocado, sempre foi muito forte, essa coisa de que a mulher tem que se preservar. Sim, é importante, porém tem outro lado: a mulher sempre foi muito subjugada, no sentido que assim, sexualidade para a mulher sempre é uma coisa proibida, mulher não podia se tocar, homem pode se tocar, se masturbar, que é a coisa mais comum do mundo (rapaz 32 anos, visão residual (12));
Iniciação sexual: Dentro de casa nunca foi falado a respeito dessa coisa de questão de sexualidade, meu pai nunca sentou prá falar com a gente sobre nada. Tudo o que eu aprendi eu aprendi foi na rua. Tudo o que eu aprendi sobre sexo era em roda de amigos, o que um tinha contado, tinha outro, não sei o que, não sei o que lá, tanto que assim eu cometi algumas insanidades (rapaz 32 anos, visão residual (13));
Autodidata: Eu era o único filho, com 3 irmãs em casa, e sempre me interessei em saber como as mulheres se sentiam em relação ao sexo. Por isso lia todas as revistas femininas que havia lá em casa e aprendi muito com elas (homem de 36 anos, paraplégico devido a acidente, casado e com filhos (14)).
Superproteção - A minha mãe, ela sempre me colocou dentro de uma redoma, como uma flor sabe, colocou ali dentro então se uma pétala cai, ela já tenta colocar ou tenta arrumar (moça DV, 22 anos); eu só vou participar desse grupo se o meu pai puder me levar, tenho que falar com ele (rapaz com DV, por telefone (15));
Rejeição - Fala da mãe para uma moça DV que hoje tem 40 anos: "É você tem que entender que ninguém vai querer casar com você"... Gente, eu era menina, eu tinha uns 14, 15 anos (...) mas ela não falou aquilo por maldade, sabe? Foi no sentido de proteger, mesmo. Ela disse: "Você não é capaz (16)".

O acolhimento dos serviços especializados que sediaram os Grupos Focais. As equipes espontaneamente se ofereceram para fazer cartazes, convidar usuários e entidades da região, mobilizaram os profissionais para fazer a testagem, muitas vezes fora de seu horário costumeiro de trabalho.

Esta receptividade demonstra o quanto os profissionais ficaram mobilizados com a questão das pessoas com deficiência e sua ausência no cenário da prevenção e/ou tratamento. Receber estas pessoas nos CTA significou promover a proximidade entre os funcionários e elas, ajudando a diminuir estigmas e preconceitos com relação à sexualidade destas pessoas e a urgência em incluí-las nas ações de prevenção e testagem.

Ter contato direto com PcD no espaço dos serviços especializados de HIV/aids, melhorar as condições de acessibilidade a elas pode ter um efeito direto sobre a abrangência dos programas, pois contribui para ampliar seu escopo e passa a ser um indicador de qualidade destes mesmos programas. Portanto, as PcD não apenas se beneficiam dos serviços, mas também prestam uma importante contribuição.
Em relação ao interesse pelo tema da aids, embora este seja abordado com freqüência pela mídia, a maior parte das pessoas que participaram dos grupos demonstraram ter baixo nível de curiosidade sobre ele, raramente procurando informações a esse respeito, independente do tipo de deficiência, idade, escolaridade e nível sócio econômico. Mas, ao serem estimuladas por perguntas, se interessaram e gostaram de ter aprendido mais. Portanto, mesmo que a PcD se considere informada sobre DST, HIV e aids, vale a pena fazer perguntas específicas. A probabilidade de que ela tenha informações superficiais é muito alta;
Revistas e programas de TV voltados ao público feminino foram os veículos de mídia citados por homens e mulheres com deficiência física e visual como sendo suas principais fontes de informação sobre questões de sexualidade. No caso de programas de TV, foram mencionados os programas veiculados à tarde, muitas vezes por apresentadoras. Essa constatação é importante; esses espaços devem ser considerados quando for traçada uma Política de Informação e um Plano de mídia voltados ao esclarecimento dessa população;
Famílias apresentam uma gama muito variada de atitudes em relação a seus membros com deficiência, indo do extremo da omissão ao da superproteção. Pais e mães freqüentemente têm dificuldade de falar sobre sexualidade com seus filhos de forma natural, tenham eles uma deficiência ou não, o que pode ser mais um dos fatores de vulnerabilidade às DST/aids, a situações de abuso ou de violência sexual experimentadas pelas pessoas com deficiência;
Quanto ao papel das entidades de/para pessoas com deficiência em relação ao tema, é raro que promovam eventos para discutir os vários aspectos da sexualidade, convidando especialistas, exibindo filmes ou distribuindo outros materiais educativos. Os que as frequentam acabam trocando informações entre si, muitas vezes incorretas e/ou incompletas;
O preconceito tem mil faces e está presente também no campo da sexualidade. A manifestação do preconceito em alguns profissionais da área da Saúde faz com que não ouçam com a devida atenção o relato dos pacientes com deficiência.

As pessoas não dão credibilidade prá você, elas não acreditam que você possa não comandar, mas coordenar um relacionamento e também ser um porto seguro, ser aquele cara que dá assistência pra mulher e fala faz isso, faz aquilo, sabe ser o homem da casa. Eu também sou capaz disso; apesar de alguma dificuldade ou outra isso não me faz menos homem, mas é um exercício que eu tenho que ficar reafirmando todos os dias. A deficiência chegou muito tempo a me avaliar o quanto homem eu era, sabe? A que ponto eu posso me sentir homem?

Rapaz com baixa visão. (17)
A percepção da importância desta pesquisa que, a despeito dos limites decorrentes de sua natureza - exploratória, de curta duração, abrangendo apenas três tipos de deficiência, equipe pequena, Agentes sem experiência anterior de pesquisa, tema desconhecido, delicado e cercado por "tabus", recursos reduzidos - está causando repercussões, testou metodologias, produziu instrumentos de pesquisa e volume considerável de dados e constatações, que subsidiarão futuros estudos, mais aprofundados.
Creditos.

(*) Mestre em Psicologia Social; Doutora em Psicologia Clínica e consultora na área da Deficiência.>
(**) Psicóloga, mestranda pelo programa de Distúrbios do Desenvolvimento - Universidade Presbiteriana Mackenzie.
(***) Psicóloga, Psicanalista, Mestre em Psicologia Social e Doutoranda em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo.
(****) Socióloga, Coordenadora Executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas e Consultora na área da Deficiência.
(*****) Assistente Social, Consultora na área da Deficiência.
(******) Colaborador - Psicólogo social, especializado em desenvolvimento comunitário e promoção da saúde.
Notas de rodapé:

Nota 1: A grafia da palavra "aids" não está padronizada, segundo o Programa Nacional de DST e AIDS. Para fins deste trabalho, adotamos a grafia "aids".

Nota 2: Atualização dos dados do Censo Demográfico 2000 realizado pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Nota 3: Parecer CEP/SMS n.o 00326/2006; Projeto CAAE 0229/06

Nota 4: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/viewFile/1705/1413.

Nota 5: HASSEN, Maria de Nazareth Agra. Grupos Focais de Intervenção no projeto Sexualidade e Reprodução. Horiz. antropol., Porto Alegre, v. 8, n. 17, June 2002.
Disponível em:
http://www.scielo.br.
Acesso em: 27 Feb. 2009. Doi: 10.1590/S0104-71832002000100009.

Nota 6: O termo "casado", neste contexto, nem sempre significa casamento legalmente constituído, mas convivência prolongada e com objetivos comuns.

Nota 7: BRASIL, Ministério da Saúde, 2007, p.9.

Nota 8: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Área de Saúde do Adolescente e do Jovem. Marco legal: saúde, um direito de adolescentes. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. 60p.

Nota 9: A íntegra dos depoimentos consta do Relatório Final, ainda não publicado.

Nota 10: Como os realizados por Rosana Glat (2004), Nora Groce (2004) e AIDS - Free World e Disabled Peoples’ International (2008), para citar algumas referências fundamentais.

Notas 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17: Pesquisa "Pessoas com Deficiência e HIV/aids: interfaces e perspectivas". Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, 2008, Relatório Final, documento interno.

FONTE:BengalaLegal

Ponto de Cultura Arte e Expressão.

  • Logo do Ponto de Cultura.

  • Projeto conveniado com a Rede RS Pontos de Cultura em 2014.
  • O Ponto de Cultura Feminista: corpo, arte e expressão é um projeto conveniado com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria de Cultura do Estado e foi contemplado no Edital 11/2012 “Rede RS de Pontos de Cultura”. O projeto visa integrar inúmeras agentes sociais com forte presença cultural e inseridas em diversificadas áreas de atuação. O Coletivo Feminino Plural, a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, a ONG Cirandar, a Associação Cultural Beneficente Ilê Mulher, a Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, as atrizes/performers Andressa Cantergiane e Carolina Pommer e a diretora de cinema Mirela Kruel integram o Comitê Gestor do Projeto que tem como linhas fundamentais a transversalização de gênero e raça e direitos humanos, abordando o corpo feminino como um espaço revestido de sentidos historicamente construído.

    Os direitos sexuais e direitos reprodutivos são trazidos para a cena como vetores do questionar a secular tentativa de destituição da autonomia das mulheres de explorar o corpo na perspectiva de sua autodeterminação como sujeito. Ao acionar o corpo como esse território de múltiplas possibilidades de expressão, serão provocadas, ao longo de três anos, ações (através de oficinas, saraus, flashmob) que interpelem as desigualdades produzidas historicamente e mantidas pelos padrões culturais.

    Orientado pela ideia de descentralização, o Ponto de Cultura Feminista: corpo, arte e expressão percorrerá lugares por onde as suas integrantes atuam e se articulam em parcerias, fomentando as expressões locais e compartilhando saberes. Transformar o mundo transformando a si mesmas é um dos fundamentos do feminismo e guiará essa trajetória.

    A sede do Coletivo Feminino Plural, na Avenida Farrapos, em Porto Alegre, tem sido utilizada como ponto de encontros do Ponto de Cultura Feminista. No entanto, em maio de 2014, será implementado o Comitê Gestor local no Bairro Restinga prevendo a ampliação das parcerias e a escolha dos locais e espaços de referência do projeto. Todas as ações serão amplamente divulgação no decorrer de suas execuções.

    Estão previstas, no escopo do projeto, a valorização e desenvolvimento da cultura e do movimento Hip hop entre as jovens mulheres com o break, o grafite e o MC. As artes cênicas e as performances tem como objetivo trabalhar o imaginário social da corporalidade e da própria experiência corporal das jovens mulheres. Com a literatura abordamos o texto escrito por mulheres como arte e como forma de expressão. Já o trabalho com artes visuais terá como fim o registro permanente do projeto e sua fruição. Saraus feministas com teatro, literatura, música e dança completam o escopo de atividades pretendidas, com a possibilidade de outras serem incorporadas no processo de desenvolvimento do projeto. As ações foram planejadas para ocorrerem simultaneamente na Restinga e na região central de Porto Alegre. Todas as facilitadoras do projeto e agentes culturais interessados/as serão capacitadas nos temas de direitos humanos, com enfoque nas relações de gênero e étnico-raciais e todas as oficinas serão precedidas de rodas de conversas sobre feminismo.

    Você poderá curtir nossa página no Facebook ou acompanhar pela página do Coletivo Feminino Plural, da Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop e na página de nossas parceiras.
    Acesse e veja as atividades de todo o grupo envolvido no Ponto de Cultura Feminista, venha fazer parte delas e vamos colocar o caldeirão feminista para ferver!


Unidade móvel orienta jovens e realiza teste rápido para HIV/Aids

Foto do Unidade Móvel 

A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, lança na terça-feira, 27, o Projeto Fique Sabendo Jovem na Capital, com o recebimento de uma unidade móvel preparada para prestar orientações sobre direitos sexuais e reprodutivos e realizar exames para diagnóstico rápido de HIV, sífilis e hepatite B. Na unidade móvel, profissional de saúde e jovem atuarão de forma conjunta para orientar, prioritariamente, jovens entre 15 e 24 anos em situação de risco ampliado para HIV/Aids. 

As ações de prevenção também serão realizadas com estudantes da rede pública de ensino e junto a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, com objetivo de melhorar o acesso desse público aos serviços de saúde e realizar o diagnóstico precoce do HIV, sífilis e hepatite B. "O diagnóstico precoce do HIV é essencial para o início do tratamento de forma oportuna, contribuindo para a redução de novas infecções", afirma Cristina Albuquerque, coordenadora do projeto e responsável pela área do HIV/aids do Unicef no Brasil. A unidade móvel tem capacidade para dar o diagnóstico em até 30 minutos após a realização do teste. 

De acordo com dados do Ministério da Saúde (2013), o número de casos de pessoas que vivem com Aids, em Porto Alegre, cresceu no panorama epidemiológico. Atualmente, são cerca de 96,2 casos novos para cada 100 mil habitantes na Capital, sendo que os dados apontam uma crescente na população jovem. A expectativa do projeto é trabalhar prevenção do HIV/Aids, Sífilis e Hepatites na população de adolescentes e jovens de Porto Alegre. 


Com a informação de Prefeitura de Porto Alegre

Fonte: http://conexoescfp.blogspot.com.br/

Projeto Conexões- Estratégias Integradas contra HIV/Aids e a Violência de Gênero

Logo do Projeto Conexões.

Sobre o Conexões

O projeto Conexões – Estratégias Integradas Contra o HIV/AIDS e a Violência de Gênero foi pensado a partir da campanha internacional “Women Won’t Wait – Mulheres Não Esperam Mais – Acabemos com a violência e a AIDS Já”, criada em 2006, para abordar a relação entre Violência contra a Mulher (VCM) e a AIDS. 

A partir de dados coletados em pesquisas promovidas, no Brasil, pelas organizações não governamentais Coletivo Feminino Plural e Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero e apoio da Rede Feminista de Saúde, com recursos da Unaids, constatou-se que há lacunas de informação quanto à feminização do HIV e sua relação com VCM. 

A feminização do HIV/AIDS e a VCM têm se configurado como duas epidemias de elevada magnitude no Brasil, conectadas pelas desigualdades nas relações de gênero. Este projeto será desenvolvido em Canoas, Porto Alegre e Viamão, municípios que apresentam dados preocupantes quanto ao HIV e a violência.

Pretende-se, com isso, auxiliar na compreensão do problema, capacitar e informar agentes da área de saúde e direitos da mulher assim como articular as redes de atendimento em saúde e atenção à violência. Para tanto, serão identificadas atrizes e atores sociais, entidades e serviços voltados para estas temáticas existentes nos três municípios gaúchos. Conselhos de Saúde e de Direitos da Mulher são parceiros deste projeto.

Como resultado, busca-se ampliar o número de agentes envolvidos, sensibilizados e instrumentalizados para perceber e atuar percebendo as conexões/interseções dois grandes problemas, impactando o Sistema Único de Saúde e as políticas públicas em geral.



Mas qual a conexão entre as duas epidemias?

Todas as evidências apontam que há uma feminização da epidemia de aids, ou seja, um crescimento do número de casos entre as mulheres, principalmente entre as jovens. Nos últimos anos, a proporção de mulheres com HIV/AIDS aumentou de 33 para 48%. Ao afirmar que há uma feminização se quer dizer que as brechas existentes entre os sexos desde o início da epidemia se reduziram drasticamente, com impactos fortes na vida e saúde das mulheres.

Hoje se sabe que a proporção entre os sexos já se aproximou muito entre homens e mulheres e em algumas faixas etárias já se inverteu. Entre os/as jovens de 15 a 24 anos infectados pelo HIV, 60% são mulheres. Por sua vez, a violência contra as mulheres por razão de gênero tem desafiado as políticas públicas pela sua intensidade e complexidade. Segundo as pesquisas mais importantes do país, a cada 25 segundos uma mulher sofre uma violência (FPA, 2012). E em dez anos 40 mil mulheres foram assassinadas (Mapa da Violência, 2013).

O que explica essas violências são os padrões culturais baseados nas desigualdades de poder entre homens e mulheres em sociedades de caráter patriarcal. Relações de poder desequilibradas desencadeiam desigualdade de poder nas relações afetivas, conjugais e/ou íntimas e em consequência dificuldade de abordagem nas questões de sexualidade, da confiança, impedindo a e proteção nas relações sexuais. A naturalização da violência de gênero em nossa sociedade resulta em impunidade e dificuldade de sua prevenção e enfrentamento.

Outras formas de violência que envolvem o mercado, como a exploração sexual, o tráfico de mulheres e meninas e o turismo sexual contribuem sobremaneira, pois refletem uma dimensão das relações de gênero estruturadas a partir da dominação e “desqualificação” feminina. Ao entrarem nesse universo as mulheres são transformadas em mercadorias, destituídas de poder, submetendo-se a relações sexuais não consentidas, ao uso de drogas, vindo a infectar-se.

Assim como a vivência da violência de gênero produz sofrimentos, a vergonha, o afastamento social e a própria anulação enquanto sujeita de direitos, a vivência das mulheres que se infectam com o HIV e desenvolvem a doença (Aids) é produtora de estigmas, humilhações, rejeição social e culpabilização. Muitas mulheres já conseguem romper com essas duas situações, mas é preciso que as politicas públicas sejam capazes de perceber tais conexões e intervir de forma integral. 


Locais onde o projeto será desenvolvido: Porto Alegre, Viamão, Canoas (RS)

Duração: 18 meses

Ações: 

Identificação de atores e atrizes sociais
Capacitações
Estudos de Caso
Incidências

Fonte: http://conexoescfp.blogspot.com.br/

Projeto Girassóis-Gênero e Saúde Mental


Conheça o Projeto Girassóis: http://girassoisgenero.blogspot.com.br/

Você sabia que: 

No Brasil, 74% dos usuários de medicamentos psiquiátricos são mulheres?
E este percentual é praticamente igual em nível mundial. A Organização Mundial de Saúde (2010) aponta que, dos cerca de 400 milhões de pessoas que sofrem de depressão no mundo, 75% são mulheres. E o pior: isso ocorre devido à situação de maior vulnerabilidade social e das relações desiguais de gênero.
Levando em consideração esta realidade, o Projeto Girassóis – Gênero e Saúde Mental, tem por objetivo capacitar profissionais da rede de atenção do município de Canoas para a implantação de um modelo de atenção à saúde das mulheres, cuja linha de cuidado reconheça e considere as questões de gênero como determinantes do seu sofrimento psíquico. 
Para promover a reflexão dos participantes, que tem como finalidade conscientizar cada um sobre a necessidade de realizar uma escuta, uma atenção mais focada na hora do atendimento às mulheres, coloca em discussão os procedimentos, os manejos, as metodologias de atendimento. Desta forma, promove a ponderação sobre como as políticas de saúde em geral observam e procedem em relação ao adoecimento psíquico das mulheres.
Com esta proposta, o projeto visa contribuir para superar visões e práticas marcadas por discriminações, estereótipos, fragmentação, medicalização excessiva e invisibilidade das interseções que determinam maior vulnerabilidade das mulheres ao adoecimento psíquico, ampliando assim a perspectiva da integralidade na atenção à saúde das mulheres e principalmente daquelas em situação de violência.
Com tal finalidade, o projeto constrói e dissemina novas estratégias e aprimoramento de métodos de cuidado junto aos profissionais ao qual se destina. Além disso, também promove ações educativas em saúde mental junto às usuárias das redes de saúde e rede especializada de atendimento.
O Projeto Girassóis – Gênero e Saúde Mental, é executado pela organização não governamental Coletivo Feminino Plural  e conta com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde e Coordenadoria de Políticas para as Mulheres de Canoas, da Rede Feminista de Saúde e conta como apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.



Ações do Projeto Girassóis: 
Com duração prevista para 18 meses, estão sendo desenvolvidas as seguintes ações:
  • Diagnóstico inicial sobre a operação dos serviços de saúde, segurança e atendimento às mulheres e de como se articulam em rede;
  • Três cursos de capacitação com duração de 60 horas cada, para profissionais das redes de saúde, segurança, assistência e atendimento às mulheres em situação de violência e um seminário reunindo as três turmas; 
  • Ações educativas com usuárias dos sistema Único de saúde e Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência;
  • Estudos de Caso;
  • Materiais comunicacionais e educativos


Por que pensar a saúde mental relacionada a gênero?
O que significa gênero aqui?



*Regina Vargas
Os processos de saúde e doença não se explicam apenas por desajustes biológicos, por um metabolismo desregulado. Saúde e doença não dependem apenas de nosso corpo, mas são resultado de um conjunto de fatores que incluem o ambiente em que vivemos, em seus diferentes aspectos – físicos, sociais e psíquicos – e nossas relações afetivas e de trabalho nesse ambiente, nossos hábitos, alimentação, sono, lazer, práticas corporais etc.

Esses fatores são muito diferentes se você for uma mulher ou um homem; se você for uma pessoa negra, ou branca, ou indígena; se você possui todas as funções motoras e sensoriais ou se é portadora de alguma deficiência; se você é criança, adolescente, jovem, adulta ou idosa...
Se todas essas diferenças entre os seres humanos são importantes como determinantes da saúde, uma delas perpassa e se soma a todas as demais – o sexo.
Ser mulher ou ser homem, em nossa sociedade, para além das diferenças biológicas que marcam as especificidades reprodutivas das mulheres, impõe desigualdades de oportunidades e de responsabilidades–desigualdades no acesso a bens, a renda, a espaços de poder, a tempo de lazer, a liberdade de escolhas...

Se as diferenças biológicas, anatômicas, entre mulheres e homens são naturais, porque nascem conosco; são permanentes, porque se mantêm ao longo de toda a história da humanidade; e são universais, por serem as mesmas em qualquer lugar do mundo, não se pode dizer o mesmo daquilo que é considerado feminino ou masculino.
As diferenças atribuídas aos sexos como características femininas ou masculinas não são naturais – elas são aprendidas ao longo da vida, através da educação e dos costumes, do convívio em sociedade; não são permanentes – elas mudam ao longo do tempo e adaptam-se ao desenvolvimento das sociedades. Também não são universais – cada sociedade tem sua própria noção do que é ser uma mulher feminina ou um homem másculo, que no Brasil é bem diferente do que é na Índia, por exemplo.
São essas diferenças construídas em cada sociedade para homens e mulheres que se denominam diferenças de gênero. O gênero, então, corresponde ao que se considera masculino ou feminino em cada lugar – e que pode não ser o mesmo no sul ou no norte do Brasil.
As diferenças de gênero – que foram construídas ao longo da história da humanidade, especialmente por aqueles que tinham poder e propriedades e que se perpetuaram pela ação das instituições como a escola e a igreja – em geral estabelecem desigualdades entre os sexos que desfavorecem as mulheres. A ideia de que as mulheres pertenceriam unicamente ao espaço privado e estavam destinadas a ser mães e zelar pelos filhos, pelo lar e pelo marido vigorou por muito tempo e ainda é alimentada por alguns grupos da sociedade.
Essa noção ultrapassada da mulher “dona” do lar entra em choque com uma sociedade em que muitas mulheres conquistaram o espaço público, o mercado de trabalho, o acesso à educação, à participação e, algumas, até mesmo ao poder político. O resultado desse choque de uma cultura ultrapassada com um novo modelo de sociedade são pressões e opressão na vida de muitas mulheres que se apresentam de diferentes formas:
  •  Sobrecarga de trabalho – dupla ou tripla jornadas por não conseguir dividir as tarefas domésticas e de cuidado dos filhos e dos idosos
  •  Discriminações de várias ordens – que dificultam o acesso ao trabalho e renda em igualdade de condições com homens
  •  Assédio no trabalho – a condição de mulher muitas vezes impõe às mulheres situações de chantagem e ameaças
  • Violência doméstica – que pode ser psicológica, produzida por humilhações, xingamentos, ofensas ou ameaças, que corroem a autoestima e causam mal-estar; física, quando a violência resulta em ataque corporal; sexual, quando as relações íntimas são contra a vontade da mulher; patrimonial, quando o parceiro apropria-se ou destrói propriedade ou pertences da mulher.
Essas desigualdades produzem mal-estares nas mulheres, que podem ter implicações sérias sobre a sua saúde, causando dores e distúrbios do organismo, ou provocando estados de ansiedade, depressão, pânico e outros, que não podem ser curados com (ou apenas com) medicação, pois sua causa está não no organismo, mas no ambiente e na qualidade de vida dessas mulheres.
Por essa razão, é preciso sempre pensar a saúde, e a saúde mental em particular, de modo integral – a saúde física, a saúde psíquica e as condições de vida de cada pessoa –, para que se possa encontrar, para cada uma, a solução para o seu problema específico, ao invés de simplesmente se medicar seus sintomas.

* Coordenadora do projeto

    Equipe:
    Coordenação Geral do projeto:
    Regina Vargas 
    Coordenação Técnica:
    Leina Peres Rodrigues
    Coordenadora Geral da Coletivo Feminino Plural:
    Telia Negrão
    Consultoras:
    Maria José de Oliveira Araújo – Médica - Consultora – elaboração de conteúdos, monitoramento e avaliação.
    Amanda Machado – Socióloga – Consultora em Planejamento.
    Teresa Cristina Bruel dos Santos – Psicóloga - Consultora para Estudos de Caso.
    Cláudia Sobieski Costa -MTE 17457 - Consultora em Comunicação

    Estagiárias:
    Carolina Mombach – Psicologia
    Jéssica Pereira –  Ciências Sociais

    MULHERES VÍTIMAS DE AGRESSÃO GANHAM NOVAS PERSPECTIVAS

    Na foto vemos duas pessoas lançando e ao lado a atendente entregando os pedidos.

    Delegacia da Mulher visa incentivar as vítimas a adentrar o mercado de trabalho sem receios


    Lajeado - A descoberta de um novo mundo. É assim que uma moradora da maior cidade do Vale enxerga os seus primeiros passos na caminhada rumo à felicidade. Tudo é novo e desafiador, mas traz a alegria da recompensa ao final do dia. Coisa escassa nos quase 20 anos de casamento, em que a hora de chegar em casa era vista como um momento de terror, assim como o início da manhã.
    A única filha que o diga. Passava horas em lágrimas na escola. Não aguentava mais ver o sofrimento da mãe. "Ela (a filha) começou a usar remédios e não conseguia se incluir na turma. Era muito difícil para". Por muitas vezes a mãe viu a morte de perto."Tudo por ciúmes. Ele colocava a faca no meu pescoço, e às vezes trancava minha respiração. Minha filha via tudo. Isso acontecia desde o primeiro ano de casamento."
    Nos últimos três anos de relacionamento as coisas pioraram, e sair de casa era um dilema. "Meu marido me chamava de vagabunda na frente dos outros. Dizia que eu só servia para ficar no fogão". A vontade era realmente outra. "Queria sair, trabalhar fora, estudar, mas nada ele deixava. Tinha na minha cabeça que a nossa relação poderia melhorar e continuava com ele mesmo assim". Mas isso não foi o que aconteceu.
    Certo dia, a lista de pessoas agredidas na família aumentou. Ver que a filha passaria pela mesma situação não era possível. "Foi a gota d´água. Resolvi dar um basta quando a vi machucada", conta a mãe. Denunciou o marido, que acabou preso. Pediu a separação e resolveu mudar de vida. A chance de dar a reviravolta surgiu num ato simples, mas que antes nunca estava ao alcance desta mulher: arranjar um emprego.
    Hoje, mesmo vivendo, ainda, sob a inconveniência dele - que insiste em atrapalhar as oportunidades de trabalho - não desiste e persiste para viver feliz. Hoje, trabalha como atendente e tem uma chefia compreensiva, que dá valor ao seu empenho. "Não vou te dizer que é fácil, pois não é. Antes eu e minha filha tínhamos tudo na mão. Mas nada vale mais do que os momentos de paz que vivemos."





    Por uma multidão de sorrisos

    A Delegacia da Mulher de Lajeado pretende estimular mais casos de sucesso como este. Em setembro do ano passado, o órgão comandado pela delegada Márcia Bernini iniciou a busca por empresas que pudessem se interessar por esta mão de obra. Até o momento, 23 organizações foram contatadas e se mostraram disponíveis, segundo Márcia, a auxiliar na iniciativa.
    "Foram simpáticos e receptivos à ideia", conta a delegada. Nesta primeira fase, menos de dez mulheres receberam as orientações da delegacia quanto às vagas. Porém, com a ajuda da Rede de Atendimento a Mulher, composta também pelo Ministério Público, Poder Judiciário, Brigada Militar, Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), o órgão pretende ampliar o trabalho em 2015.
    A delegada explica que o serviço será mais de incentivo e apoio. "A ideia é somente mostrar as mulheres que existem tais vagas. Dar o auxílio psicológico necessário - já prestado pelo Creas - e incentivá-las para que persistam na busca. Queremos que elas saiam daquele ambiente e se enxerguem. Vejam que são capazes."
    As oportunidades não são restritas a serviços gerais e permitem avanços no currículo das mulheres. "Não queremos que elas façam só limpeza. Apresentamos vagas melhores, em empresas grandes, que estão sempre precisando de pessoas novas", enfatiza a delegada. Para isso, a ideia de inseri-las no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).


    Dependência financeira


    Com salários menores, ou sem trabalho, as mulheres agredidas também são vítimas da dependência financeira. Apesar de não possuir números exatos, a delegada Márcia atesta que a maioria delas mantém o relacionamento por este fator. Além disso, a baixa autoestima, causada pelas agressões psicológicas, quando elas são diminuídas, também limitam a caminhada. "Ela acredita naquilo. Enquanto na maioria dos casos é simples se libertar". A clausura, para Márcia, já começa quando a mulher precisa se afastar dos amigos e da família. "Para evitar a violência, ela faz o que ele quer e acaba deixando de exercer os seus direitos como mulher."

    A garantia de comprometimento

    Gerente de Recursos Humanos de uma das empresas participantes da rede de apoio, Anete Diehl Martins, aprova a iniciativa. Ela acredita que abrir as portas para estas mulheres geraria uma espécie de agradecimento. "Se alguém abrir as portas, dar oportunidades, elas vão ser mais comprometidas". Isto porque, para Anete, a empresa estaria acolhendo a vítima de agressão, que se sente perdida nesta fase. E ela, em troca, se sentiria no dever de fazer um bom serviço.

    As interferências do agressor no processo, para a profissional, são comuns e devem ser compreendidas pela empresa. "Enfrentamos este tipo de questão diariamente. Mas faz parte. A empresa tem o papel de amparar e precisa dar um olhar diferenciado neste primeiro momento."

    Outras causas

    Telia Negrão, coordenadora da organização feminista não governamental Coletivo Feminino Plural, de Porto Alegre, trabalha há 30 anos pelo empoderamento das mulheres. Para ela, iniciativas como a da rede lajeadense são importantes a todo o momento da vida da mulher, antes mesmo que chegue a pontos extremos, como o da agressão. Porém, ela acredita que hoje a questão cultural influi ainda mais nestas questões do que a dependência financeira.



    "Quando comecei a ser ativista, o pensamento era de que as agressões estavam relacionadas ao álcool. Depois, partiu-se para a dependência financeira. Só que hoje as mulheres representam 50% da mão de obra no país. Elas sofrem, inclusive, violência patrimonial - são roubadas pelos maridos. Por isso, acreditamos que a cultura ainda é o principal fator que carrega a mulher para a inferioridade."
    Ela explica que as políticas públicas ainda não são totalmente eficazes, e até o momento não foram capazes de remover a ideia de que as mulheres precisam se submeter aos homens. "As mulheres precisam se empoderar na sociedade, na área profissional e na família. É isto que o coletivo defende", enfatiza Telia. Para ela, esta realidade será modificada somente com a mudança educacional e cultural da população. "É preciso desmontar esta lógica da desigualdade. Encorajar as mulheres, através de fortes campanhas. Trazer o respeito que elas merecem", projeta.

    Em questão

    A psicóloga Márcia Werner é especialista em violência doméstica e, por nove anos, em meio a casos contra crianças e adolescentes, acompanhou mulheres nesta situação. Ela fala sobre a dificuldades e benefícios da inserção das vítimas nas empresas:



    O Informativo - Como a autoestima da mulher pode ser afetada pela agressão, no momento de se lançar ao mercado de trabalho?

    Márcia Werner - A violência doméstica dilacera a autoestima. Em geral, a violência física vem acompanhada da violência psicológica. A segunda é a que mais prejudica a mulher. Quanto mais tempo ela fica submetida à violência, piores são as consequências. Portanto, ao buscar um emprego a mulher pode candidatar-se a um cargo inferior ao que desejaria por crer que não tem capacidade para uma função superior. Na entrevista de emprego ela pode se apresentar insegura e ter dificuldades em mostrar seus talentos e pontos fortes. Além de declinar diante de desafios.

    O Informativo - Quais são os principais benefícios obtidos pelas mulheres agredidas ao buscar um emprego?

    Márcia Werner - Ela alcança uma identidade: a de trabalhadora. O modelo de sociedade atual valoriza muito o trabalho formal. Estar incluído nesse campo é hoje uma fundamental fonte de valorização para qualquer cidadão. E talvez ainda mais importante para as mulheres vítimas de violência doméstica. Ao perceberem que conseguem conquistar e manter um emprego formal vão adquirindo autoconfiança. Além disso, atingem a independência financeira, autossuficiência, crescimento pessoal e profissional, bem como ampliação do seu círculo de convivência.

    O Informativo - Como recuperar a autoestima das mulheres, para além do trabalho?

    Márcia Werner - O apoio psicológico é fundamental neste processo para fortalecer a autoconfiança das mulheres. Na nossa região dispomos de diversos serviços públicos e privados, como, por exemplo, o trabalho desenvolvido pelo SAJUR, da Univates oferece suporte psicológico e jurídico. Outra maneira é inserir-se em atividades de apoio social, em diferentes contextos e até mesmo, como muitas vítimas de violência fazem, contribuindo para tirar outras mulheres desta situação.



    Crédito da notícia: Carolina Chaves da Silva

    Fonte: http://www.informativo.com.br/