quinta-feira, 16 de julho de 2015

Meu corpo, minhas regras!



Mais uma matéria escrita pela Inclusiva Vitória Bernardes no Jornal Meu Bairro.

Nesta segunda-feira, dia 29/06, ocorreu aqui em Porto Alegre uma audiência pública sobre o Parto Humanizado.

O que me chamou a atenção sobre o evento não foi somente a participação de algumas excelentes representações ou a fala apropriada e assertiva do deputado Jean Wyllys, mas as inúmeras vezes que a palavra “segurança” foi utilizada.

Durante o evento lembrei quando fui impedida de ser transferida da minha cadeira de rodas para uma poltrona do cinema. O motivo: segurança. Ao mesmo tempo, minha segurança ao ser carregada pelo corredor do avião, por exemplo, nunca foi questionada. Estranho não?

Ainda falando sobre ironias, por que, enquanto mulher, não posso interromper uma gestação de forma digna, mas enquanto mulher com deficiência, que deseja exercer a maternidade, sou sugerida a abortar por médicos? Por que, enquanto gestante, não tenho o direito de escolher a forma e o ambiente que quero trazer meu filho ao mundo, mesmo com inúmeras pesquisas que apontam os benefícios destas escolhas?

O que não me parece seguro é uma mulher não ter acesso a informações honestas sobre o seu corpo e a saúde de seu bebê. O que não me parece seguro é alguém se valer do conhecimento acadêmico para impor afirmações absurdas como “ele é grande demais”, “o cordão está enrolado no pescoço”, “você prefere arriscar a vida do teu filho pra seguir nesta bobagem de parto normal”. O que não me parece seguro é alguém te impor procedimentos desnecessários como episiotomia, manobra de kristeller, ocitocina sintética… uma cesárea devido ao tempo precioso do obstetra.

Infelizmente parir em hospital virou um ato de temor, que necessita de empoderamento e luta. Ou seja, o machismo é tão presente na formação médica que, o único momento em que a mulher é protagonista inquestionável, querem tornar ilegítima nossa atuação. Um exemplo disto é que os mesmos médicos que resumiram o parto humanizado ao parto domiciliar e defenderam a “segurança” das mulheres, foram os que, de forma extremamente prepotente, atribuíram a si a linda e árdua tarefa de parir.

Onde está a coerência? O que está em jogo é a segurança ou o machismo institucionalizado?

Profissionais éticos não são capazes de manipular informações e distorcê-las ao seu bel-prazer. O que eles chamam de segurança, eu chamo de perversidade. O que eles chamam de segurança, eu chamo de controle sobre o corpo da mulher!

Relembro a fala do médico representante do SIMERS, quando disse que “adora o parto normal”… Mal sabe ele que a sua opinião vale apenas dentro de sua casa, pois o que queremos no consultório é a ciência. Como diria o pai da medicina, Hipócrates, “Na verdade, existem duas coisas: a ciência e a opinião; a primeira gera conhecimento, a segunda, ignorância”.

Se preparem, nossas vozes estão se tornando cada vez mais fortes. Meu corpo, minhas regras!

Fonte: http://www.meubairropoa.com/