segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Qual o meu espaço? Por Vitória Fernandes

A imagem ilustra do lado direito  um cadeirante a frente de uma rampa bem inclinada e o do outro lado uma rampa com vários degraus acima.
A Incluisivass Vitória Bernardes é colunista do Jornal Meu Bairro de POA e escreveu esta coluna falando um pouco de sua história de vida.

Aos 16 anos de idade, em plena tarde do dia 31/12/2001, fui ao armazém em frente à casa da minha avó. Atravessei a rua, peguei o telefone público e… seriam abraços de felicitações para 2002?! Caí no chão e percebi: era um assalto e eu havia sido baleada.

Alguns dias depois fui entendendo que não mexia pernas, nem braços. Não respirava, nem comia sozinha. Mas tudo bem, afinal estava em um hospital e sairia dali bem, curada. O tempo foi passando e a angústia de não participar do Planeta Atlântida foi aumentando, afinal era uma adolescente que se encontrava ali.

O socorro e a segurança de que as coisas, de alguma forma, dariam certo sempre vieram da minha mãe. Foi ela que buscou, encontrou e organizou minha ida à Rede Sarah, em Brasília. Saí do hospital depois de 03 meses na UTI e parti diretamente para a reabilitação. Até então tudo parecia (e eu necessitava que fosse) transitório.

Na chegada ao Sarah, e ao me deparar com inúmeras pessoas em cadeiras de rodas, percebi que minha situação era uma permanente realidade. Lá recebi informações sobre o que estava acontecendo comigo. Soube que eu havia me tornado tetraplégica e que minha lesão ficava na altura da 5ª vértebra da coluna cervical. Soube que tinha uma lesão medular aparentemente completa, já que não tinha sensibilidade alguma do ombro para baixo. Soube que não controlava meu corpo, mas que poderia (e necessitava) compreender seus novos códigos.

Foram 05 meses em ambientes hospitalares, com pessoas que passavam por dificuldades semelhantes e, também por isso, me faziam pertencer a algo. Sair do hospital foi bom, mas doloroso.

Voltei ao colégio e fui recebida com muito carinho, mas senti que aquele não era mais o meu lugar.

Sair às ruas fez eu me sentir um estorvo, afinal sempre era observada e dificilmente “permitida” a entrar onde queria.

Será que eu pertenceria a algum espaço novamente? Esta pergunta me provoca diariamente e me impulsiona a compartilhar minhas vivências através desta coluna.

Pensando e ressignificando acontecimentos, convido a todos a aproximarem a discussão sobre deficiência e inclusão à sua realidade.

Fonte:http://www.meubairropoa.com/