quarta-feira, 3 de junho de 2015

Controle de armas, o que eu tenho a ver com isso?


Um homem de lado com um pano tapando a boca o braço esquerdo apontando pra alguém e no braço direito segura um ramalhete de flores em que faz um movimento de jogar este ramalhete.

A dificuldade em se falar sobre o controle de armas vem justamente da dificuldade de nos desarmarmos frente ao outro.

Lembro que nos anos 90 ser colorada era motivo de chacota e que não faltaram tentativas para me persuadir a mudar de clube. Minha resposta sempre foi não, pois paixão é assim, não se abre mão por nada, nem diante os maiores e melhores argumentos. Mas a pergunta que faço é: podemos embasar todas nossas decisões pela paixão?

Mudar de opinião por vezes é encarado com angústia semelhante ao de se perder a identidade, como uma criança que não aceita a chegada de um novo irmão, a separação dos pais ou tornar-se adulto. Estas passagens, de fato, podem representar perdas, mas não resultam apenas em sofrimento. Com a chegada de um novo irmão pode surgir o aprendizado da cumplicidade, com a separação dos pais é possível compreender a beleza do amor, em ficar feliz por ver quem se ama feliz. Crescer é tornar-se sujeito de sua história, é ter a honra de tomar e se responsabilizar por suas escolhas.

Em tempos em que posicionamentos políticos velados foram transformados em discursos fervorosos (e alguns pavorosos), te pergunto: será que passamos, finalmente, a compreender que somos os resultados de nossas escolhas? Ou este movimento é apenas a reprodução daquilo que nos fizeram acreditar? Independente da resposta, a pergunta se faz necessária.

Aos 16 anos de idade vi minha história ser marcada por algo que nunca fez parte de mim: uma arma de fogo. Não me lembro de discutir nada relacionado ao tema, pois isto me parecia distante. A arma não atinge apenas quem a utiliza de forma “consciente”, pois não é possível controlá-la plenamente após tê-las em mãos. Sua finalidade é clara, tanto que seu nome não é associado unicamente à morte de “bandidos”, mas também a suicídios, tragédias envolvendo crianças, crimes passionais cometidos por “homens de bem”…

A necessidade do controle de armas vem do impacto que ela causa. Atualmente estamos matando perversamente a existência do outro. O discurso é da garantia ao direito à defesa, mas qual direito seria maior que o direito a vida? As mulheres, que são estimuladas a cuidar desde pequenas e a verbalizar sentimentos, são menos favoráveis ao uso de armas por quê? Quando a violência deixará de ser a resposta para tudo o que não concordo?

Aprendi dentro de casa a reconhecer o valor que cada um carrega dentro de si e que o debate e o amadurecimento de opiniões são suficientes para minha voz ser ouvida. A vida me mostrou que minha omissão também gera consequências e que minha ideia de distanciamento não passava de ilusão. Precisamos que algo aconteça diretamente conosco para deixarmos nossa indiferença de lado?

Minha mãe viu a pessoa que atirou em mim ainda empunhando a arma, mas em nenhum momento quis agredi-la ou fazer-lhe o mesmo. Seu foco foi salvar minha vida. Diante este exemplo, te pergunto: se trocássemos nosso foco, ao invés de defender exclusivamente a nossa vida, buscássemos defender a vida de forma ampla, não teríamos resultados diferentes?

O que quero oferecer e receber do mundo, tiros ou flores? Escolha!

Fonte: http://www.meubairropoa.com/