segunda-feira, 27 de abril de 2015

O beijo, o Estatuto do Desarmamento e a não redução da maioridade penal.


Mais uma matéria escrita no site Meu Bairro onde a Inclusivas Vitória Bernardes participa da coluna direito pela vida.

Li uma matéria do mês passado em que o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) convocava todos a boicotarem a empresa Natura, até que ela retirasse o patrocínio de Babilônia, novela da Rede Globo. O motivo: o beijo entre duas mulheres.

O Estatuto do Desarmamento, que apresentou avanço na redução de homicídios no Brasil (mesmo sem sua implementação plena), está para ser revogado a qualquer momento. Na realidade, desde sua aprovação em 2003, tentativas de/e violações não lhe faltaram.

A redução da maioridade penal, que retornou a ser uma possível e lamentável realidade, está aí para oficializar uma punição perversa já existente.

Além de uma bancada conservadora e retrograda, que encabeça politicamente estas 3 iniciativas, nelas é possível constatar a propagação de uma cultura bélica, onde o respeito e a empatia poderiam ser abolidos do nosso dicionário e substituídos apenas pela palavra intolerância.

Mais que dizer que estes deputados trabalham pela “elitização” de direitos, o olho por olho e a utilização da máquina pública para beneficio próprio, precisamos lembrar que eles representam milhões de pessoas aprisionadas em seus medos e incapazes de reconhecer a existência do outro.

Nada mais humano que sentir medo. Seja o medo daquilo que nego em mim, difere de mim e/ou daquilo que aprendi a desvalorizar e a entender como inimigo. Entre tantas possibilidades, eu pergunto, qual o teu medo?

Eu tenho medo da naturalização do ódio. Tenho medo que o exercício sadio da sexualidade continue sendo alvo de discriminações e assassinatos. Tenho medo do individualismo que nos cega e nos arma. Tenho medo que continuem confundindo segurança pública com, exclusivamente, repressão policial. Tenho medo desta cultura que culpabiliza vítimas e fabrica vilões. Tenho medo de escolher novos “Judas” e esquecer a omissão pertencente a todos nós.

A propagação do medo vendida por estes deputados que, em grande parte são financiados por empresas armamentistas, escancaram nossa passividade em tomar discursos calorosos como incontestáveis e nossa preguiça em raciocinar.

Será que já não passou a hora de assumirmos as cosequências de nossas escolhas e questionarmos os interesses que movem nossos deputados? Os discursos de ódio proferidos por eles visam defender o bem estar social ou os interesses das empresas que os colocaram lá dentro?

Aos que discordam de tudo que foi dito até aqui, volto ao beijo, à luta por uma sociedade baseada no reconhecimento do direito a vida do outro e a necessidade de responsabilização, ao invés de punições que possuem cor e endereços definidos, para te fazer mais uma pergunta: quando amar passou a causar mais estranheza que o ódio?

Não tenho resposta, mas, para encerrar, vou utilizar a música de Belchior: “amar e mudar as coisas me interessa mais”.

Fonte: Meu Bairro