quarta-feira, 8 de abril de 2015

Avessa traz ao palco a violência cotidiana contra mulher

Com fundo escuro a parte mais clara vemos uma mulher vestida de branco deitada

Por Paula Guimarães
Na mesa do bar, a mensagem da marca de cerveja relaciona, em tom de piada, mulher e futebol “Pelada também tem marcação cerrada: ninguém deixa a Devassa sozinha”. A violência contra a mulher de tão rotineira, passa despercebida. Ainda que não seja notada e, por vezes, negada, ela continua ali, do lado avesso, como trata a peça Avessa, apresentada em Balneário Camboriú/SC, que destaca o estupro sexual como símbolo das diversas formas de violência cometidas contra a mulher.
“Sofremos diariamente diversos tipos de estupro – ouvimos coisas, ‘engolimos’ coisas, somos obrigadas a passar por constrangimentos, tiram nossos direitos, nos inferiorizam”, afirma Ana Paula Beling, atriz e idealizadora do espetáculo que tem sonoplastia ao vivo da flautista Larissa Galvão e do violonista Pedro Loch.
A foto abaixo vemos uma mulher assegurando os cabelos pra cima e cortando com a tesoura.
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Relatos de mulheres, literaturas relacionadas ao discurso feminista e experiências pessoais da atriz deram base para a construção de Avessa. “Avessa é o lado feminino que a sociedade não quer ou prefere não enxergar. E a mulher que apresento ao público está nessa situação avessa: às avessas”, assinala.
No texto do dramaturgo Gregory Haertel, a personagem reflete a trajetória do feminismo no mundo: “começa ingênua, depois, é abusada sexualmente, radicaliza então, vingando-se, aniquilando o masculino e, depois, descobre que sua busca não é mais a mutilação do masculino, mas sim, a sua própria libertação”, explica Ana Paula.
Após a apresentação, a equipe envolvida propõe a discussão sobre o espetáculo ao público. “Tivemos a oportunidade de discutir mais do que a obra artística, a realidade da mulher na sociedade atual”, revela.
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O projeto recebeu recursos da Lei de Incentivo à Cultura de Balneário Camboriú de 2013. “A ideia era levar a identidade feminina contemporânea e a realidade na qual vive a mulher hoje em dia, especialmente no Brasil. No decorrer do processo, a questão da sexualidade falou mais alto”, revela.
Visão de gênero
Com seis anos, Ana Paula já ensaiava seus primeiros passos de atriz e, com oito, se encaminhava para a música. Recentemente, a artista analisou, no mestrado em teatro, a peça “Gota d’água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes e a atuação de Bibi Ferreira na personagem principal, Joana.
Além desta, outras obras a ajudaram a formar sua visão sobre a condição da mulher como As Santas Quebradas – violência contra a mulher pela voz das vítimas, de Fernanda Ribeiro Queiroz de Oliveira, Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés, e A maternidade – e o encontro com a própria sombra, de Laura Gutman. “Feminismo é a luta pela libertação da mulher do sistema machista que a coloca (desde sempre) na posição de submissa/inferior ao homem”, define.
Fonte:edesaude.org.br