Segundo o Censo de 2010 o último que considerou obrigatoriamente o mapeamento de pessoas com deficiência cerca de 23,9% da população brasileira, o equivalente a aproximadamente 45,6 milhões de pessoas, foram identificadas com algum tipo de deficiência. Desse total, 25,8 milhões são mulheres. Ainda assim, o Brasil segue se baseando em dados defasados para definir políticas públicas essenciais. O Censo mais recente, infelizmente, deixou de incluir essa informação como obrigatória, invisibilizando milhões de brasileiros com deficiência diante do Estado.
Pesquisas e relatos demonstram que mulheres com deficiência enfrentam diariamente a exclusão de direitos básicos. Estamos longe de ocupar espaços de poder e decisão, tanto na política institucional quanto nos movimentos feministas e anticapacitistas. Seguimos invisibilizadas, mesmo sendo diretamente impactadas por decisões que nos ignoram.
O que vimos recentemente na mídia, com parlamentares tapando os olhos, ouvidos e bocas como gesto simbólico, é mais um episódio preocupante. Essa encenação reforça estereótipos negativos sobre a deficiência, associando-a ainda que indiretamente à ignorância, à omissão ou ao silêncio. Esse tipo de atitude, mesmo quando politicamente motivada, alimenta o capacitismo político.
Enquanto isso, o trabalho legislativo é paralisado por disputas de poder entre famílias políticas. O povo, especialmente os grupos mais vulneráveis, continua à espera de projetos concretos voltados à inclusão, acessibilidade, saúde, renda, educação e dignidade. Vale lembrar que a maioria das pessoas com deficiência ou suas famílias vivem com até dois salários mínimos e agora enfrentam a ameaça de perder a isenção do imposto de renda, um dos poucos benefícios garantidos por lei.
É urgente que paremos de usar a deficiência como metáfora e comecemos a escutar, incluir e representar essas pessoas nos espaços onde se decide o futuro do país.
Nada sobre nós sem nós.