quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

PRORROGADO O TETO DE R$ 70.000 PARA CARRO COM ISENÇÃO DE ICMS ATÉ ABRIL DE 2017

                     
           


                         Direito à compra especial está garantido até 30 de abril de 2017

Por Rodrigo Rosso


Ainda não foi dessa vez que o limite do valor teto para compra do carro zero km por pessoas com deficiência e familiares que gozam de desconto do ICMS aumentou. A elevação do teto de R$ 70.000 é uma antiga reivindicação. Mas nem tudo está perdido… Pelo menos o valor foi mantido na última reunião do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) e prorrogado até 30 de abril de 2017.

Essa decisão do Confaz foi tomada no início de outubro. Apesar de parecer ruim num primeiro momento, a prorrogação foi positiva. Vivemos um momento de incertezas políticas e muitos setores estão perdendo seus benefícios fiscais. O convênio 38 foi um dos poucos que se mantiveram valendo. A alegação do conselho para o não aumento é que o teto subiria para R$ 101.885, aumentando a renúncia de receita de R$ 1.628.273 para R$ 2.449.570 ao ano. O órgão acredita que a ampliação de benefícios pode comprometer o alcance e a manutenção do equilíbrio fiscal.

Mas praticamente não há opção de carros automáticos que custem menos de R$ 70.000. As pessoas com deficiência e seus familiares não compram automóveis por status ou luxo, mas sim por necessidade de locomoção no seu dia a dia. Uma grande parcela dessas pessoas necessitam, sim, de veículos com porta-malas grandes, com capacidade de transporte até da pessoa em sua própria cadeira de rodas, por exemplo, em muitos casos… e essesmodelos custam mais de R$ 70.000,00.

Fica aqui o alerta para as autoridades responsáveis por esse processo ou que podem influenciar na mudança e reajuste do valor teto: temos que atualizar esse valor teto pelos índices de inflação de 2009 – quando ele passou a valer – até os dias de hoje! O reajuste pelos índices de inflação é uma solicitação justa e coerente. Afinal, os veículos sofreram vários aumentos de preço de 2009 até 2015. Esse reajuste é uma questão de coerência e respeito para com o cidadão com deficiência.


Fonte: Motor Show

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Uso correto da terminologia sobre o tema deficiência – Parte Final




Segue abaixo a continuidade das expressões incorretas seguidas de comentários e dos equivalentes termos corretos, frases corretas e grafias corretas. Para entender melhor, recomendamos que leiam também a primeira parte desse artigo.

30. lepra; leproso; doente de lepra

TERMOS CORRETOS: hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de hanseníase. Prefira o termo as pessoas com hanseníase ao termo os hansenianos. A lei federal nº 9.010,de 29/3/95, proíbe a utilização da palavra lepra e seus derivados, na linguagem empregada nos documentos oficiais.
Alguns dos termos derivados e suas respectivas versões oficiais são: “leprologia (hansenologia), leprologista (hansenologista), leprosário ou leprocômio (hospital dedermatologia), lepra lepromatosa (hanseníase virchoviana), lepra tuberculóide (hanseníase tuberculóide),lepra dimorfa (hanseníase dimorfa), lepromina (antígeno de Mitsuda), lepra indeterminada (hanseníase indeterminada)”.

A palavra hanseníase deve ser pronunciada com o h mudo [como em haras,haste, harpa]. Mas, pronuncia-se o nome Hansen (do médico e botânico norueguês Armauer Gerhard Hansen) com o h aspirado.

31. LIBRAS – Linguagem Brasileira de Sinais

GRAFIA CORRETA: Libras.
TERMO CORRETO: Língua de sinais brasileira. Trata-se de uma língua e não de uma linguagem. Segundo CAPOVILLA [comunicação pessoal],“Língua de Sinais Brasileira é preferível a Língua Brasileira de Sinais por uma série imensa de razões. Umadas mais importantes é que Língua de Sinais é uma unidade, que se refere a uma modalidade lingüística quiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva. Assim, há Língua de Sinais Brasileira. porque é a língua de sinais desenvolvida e empregada pela comunidade surda brasileira. Não existe uma Língua Brasileira, de sinais ou falada”. Ver os itens 28,32 e 33.

32. língua dos sinais

TERMO CORRETO: língua de sinais. Trata-se de uma língua viva e, por isso, novos sinais sempre surgirão. A quantidade total de sinais não pode ser definitiva. Ver os itens28, 31 e 33.

33. linguagem de sinais

TERMO CORRETO: língua de sinais. A comunicação sinalizada dos e com os surdos constitui um língua e não uma linguagem. Já a comunicação por gestos, envolvendo ou não pessoas surdas, constitui uma linguagem gestual. Uma outra aplicação do conceito de linguagem se refere ao que as posturas e atitudes humanas comunicam não-verbalmente,conhecido como a linguagem corporal. Ver os itens 28, 31 e 32.

34. Louis Braile

GRAFIA CORRETA: Louis Braille. O criador do sistema de escrita e impressão para cegos foi o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era cego. Ver os itens 52 e 53.

35. mongolóide; mongol

TERMOS CORRETOS: pessoa com síndrome de Down, criança com Down, uma criança Down. As palavras mongol e mongolóide refletem o preconceito racial da comunidade científica do século 19. Em 1959, os franceses descobriram que a síndrome de Down era um acidente genético. O termo Down vem de John Langdon Down, nome do médico inglês que identificou a síndrome em 1866. “A síndrome de Down é uma das anomalias cromossômicas mais freqüentes encontradas e, apesar disso, continua envolvida em idéias errôneas… Um dos momentos mais importantes no processo de adaptação da família que tem uma criança com síndrome de Down é aquele em que o diagnóstico é comunicado aos pais, pois esse momento pode ter grande influência em sua reação posterior.”. Ver os itens 12 e 50.

36. mudinho

Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. O diminutivo mudinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa.
TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Há casos de pessoasque ouvem (portanto, não são surdas) mas têm um distúrbio da fala (ou deficiência da fala) e, em decorrência disso, não falam. Ver os itens 46, 56 e 57.

37. necessidades educativas especiais

TERMO CORRETO: necessidades educacionais especiais. “A palavra educativo significa algo que educa. Ora, necessidades não educam; elas são educacionais, ou seja, concernentes à educação”(SASSAKI, 1999). O termo necessidades educacionais especiais foi adotado pelo ConselhoNacional de Educação / Câmara de Educação Básica (Resolução nº 2, de 11-9-01, combase no Parecer CNE/CEB nº 17/2001, homologado pelo MEC em 15-8-01). Esta Resolução, durante o ano de 2005, está sendo reformulada pelo CNE.

38. o epilético (ou a pessoa epilética)

TERMOS CORRETOS: a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia. Evite “o epilético”, “a pessoa epilética” e suas flexões em gênero e número.

39. o incapacitado (ou a pessoa incapacitada)

TERMO CORRETO : a pessoa com deficiência. A palavra incapacitado é muito antiga e era utilizada com freqüência até a década de 80. Evite “o incapacitado”, “a pessoa incapacitada” e suas flexões em gênero e número.

40. o paralisado cerebral (ou a pessoa paralisada cerebral)

TERMO CORRETO: a pessoa com paralisia cerebral. Evite “o paralisado cerebral”,“a pessoa paralisada cerebral” e suas flexões em gênero e número.

41. “paralisia cerebral é uma doença”

FRASE CORRETA: “paralisia cerebral é uma condição” Muitas pessoas confundem doença com deficiência.

42. pessoa normal

TERMO CORRETO: pessoa sem deficiência; pessoa não-deficiente. A normalidade,em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado.

43. pessoa presa [confinada, condenada] a uma cadeira de rodas

TERMOS CORRETOS: pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas; pessoa que usa cadeira de rodas. Os termos presa, confinada e condenada provocam sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos cadeirante e chumbado.

44. pessoas ditas deficientes

TERMO CORRETO: pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste caso, funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é preconceituoso.

45. pessoas ditas normais

TERMOS CORRETOS: pessoas sem deficiência ; pessoas não-deficientes. Neste caso, o termo ditas é utilizado para contestar a normalidade das pessoas, o que se torna redundante nos dias de hoje.

46. pessoa surda -muda

GRAFIAS CORRETAS: pessoa surda ou, dependendo do caso, pessoa com deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. Diferencia-se entre deficiência auditiva parcial (perda de 41 decibéis) e deficiência auditiva total (ou surdez, cuja perda é superior a 41 decibéis), perdas essas aferidas por audiograma nas freqüências de 500Hz, 2.000Hz e 3.000Hz, segundo o Decreto nº 5.296, de2/12/05, arts. 5º e 70 Ver os itens 36, 56 e 57.

47. portador de deficiência

TERMO CORRETO: pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se bastante popular,acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador de deficiência (e suas flexõesno feminino e no plural). Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido passou a ser pessoa com deficiência. Aprovados após debate mundial, os termos “pessoa com deficiência” e “pessoas com deficiência” são utilizados no texto da Convenção Internacional de Proteção e Promoção dos Direitos e da Dignidade das Pessoas com Deficiência, em fase final de elaboração pelo Comitê Especial da ONU. Ver os itens 2 e 48.

48. PPD’s

GRAFIA CORRETA: PPDs. Não se usa apóstrofo para designar o plural de siglas. A mesma regra vale para siglas como ONGs (e não ONG’s). No Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo pessoas portadoras de deficiência. Hoje, o termo preferido passou a ser pessoas com deficiência, motivando o desuso da sigla PPDs. Devemos evitar o uso de siglas em seres humanos. Mas, torna-se necessário usar siglas em circunstâncias pontuais, como em gráficos, quadros, colunas estreitas, manchetes de matérias jornalísticas etc. Nestes casos, a sigla recomendada é PcD, significando “pessoa com deficiência”, ou PcDs para “pessoas com deficiência”.Esta construção é a mesma que está sendo um consenso atualmente em âmbito mundial. Em espanhol: PcD (persona con discapacidad), tanto no singular como no plural, sem necessidade do “s” após PcD. Em inglês: PwD, também invariável em número (personwith a disability, persons with disabilities, people with disabilities). Ver os itens 2 e 47

49. quadriplegia; quadriparesia

TERMOS CORRETOS: tetraplegia; tetraparesia. No Brasil, o elemento morfológico tetra tornou-se mais utilizado que o quadri. Ao se referir à pessoa, prefira o termo pessoa com tetraplegia (ou tetraparesia) no lugar de o tetraplégico ou o tetraparético.

50. retardo mental, retardamento mental

TERMOS CORRETOS: deficiência intelectual. São pejorativos os termos retardado mental, mongolóide, mongol, pessoa com retardo mental, portador de retardamento mental,portador de mongolismo etc.
Tornaram-se obsoletos, desde 1968, os termos: deficiência mental dependente (ou custodial), deficiência mental treinável (ou adestrável), deficiência mental educável. Ver os itens 12 e 35.

51. sala de aula normal

TERMO CORRETO: sala de aula comum. Quando todas as escolas forem inclusivas, bastará o termo sala de aula sem adjetivá-lo. Ver os itens 7 e 25.

52. sistema inventado por Braile

GRAFIA CORRETA: sistema inventado por Braille. O nome Braille (de Louis Braille, inventor do sistema de escrita e impressão para cegos) se escreve com dois l (éles). Braille nasceu em 1809 e morreu aos 43 anos de idade. Ver os itens 34, 53 e 58.

53. sistema Braille

GRAFIA CORRETA: sistema braile. Conforme MARTINS (1990), grafa-se Braille somente quando se referir ao educador Louis Braille. Por ex.: ‘A casa onde Braille passou a infância (…)’. Nos demais casos, devemos grafar: [a] braile (máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile, sistema braile, biblioteca braile etc.) ou [b] em braile(escrita em braile, cardápio em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal embraile, texto em braile etc.). NOTA: Em 10/7/05, a Comissão Brasileira do Braille (CBB) recomendou a grafia “braille”, com “b” minúsculo e dois “l” (éles), respeitando a forma original francesa, internacionalmente empregada (DUTRA, 2005), exceto quando nos referirmos ao educador Louis Braille. Ver os itens 34, 52 e 58.

54. “sofreu um acidente e ficou incapacitado”

FRASE CORRETA: “teve um acidente e ficou deficiente”. A palavra sofrer coloca apessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade.

55. surdez-cegueira

GRAFIA CORRETA: surdocegueira. No que se refere à comunicação das (e com) pessoas surdocegas, existem a libras tátil (libras na palma das mãos) ou o tadoma (pessoa surdocega coloca sua mão no rosto do interlocutor, com o polegar tocando suavemente o lábio inferior e os outros dedos pressionando levemente as cordas vocais). O método tadoma foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1926, quando Sophia Alcorn conseguiu comunicar-se com os surdocegos Tad e Oma, nomes que deram origemà palavra “tadoma”. Ver o item 22.

56. surdinho

TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Odiminutivo surdinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. Os próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos de surdos, embora eles não descartem os termos pessoas cegas e pessoas surdas. Ver os itens 36, 46 e 57.

57. surdo-mudo

GRAFIAS CORRETAS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. Ver os itens36, 46 e 56.

58. texto (ou escrita, livro, jornal, cardápio, placa metálica) em Braille

GRAFIAS CORRETAS: texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal embraile; cardápio em braile; placa metálica em braile. Consultar DUTRA (2005). Ver NOTA no item 53.

59. visão sub-normal

GRAFIA CORRETA: visão subnormal. TERMO CORRETO: baixa visão. Existem quatro condições de deficiência visual: 1. cegueira (acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica); 2. baixa visão (acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica); 3. casos cuja somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; 4. ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores, de acordo com o Decreto nº 5.296, de2/12/04, arts. 5º e 70 (BRASIL, 2004). Ver o item 6

Referências Bibliográficas

ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 3.ed. Petrópolis: Vozes,1999._____. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus, 1998.
BRASIL. Decreto nº 5.296, 2/12/04, arts. 5º e 70 [Lei da Acessibilidade]._____. Lei nº 10.216, 6/4/01 [Lei do Transtorno Mental]._____. Lei federal nº 9.010, 29/3/95 [Lei da Hanseníase].
CAPOVILLA, Fernando César. Comunicação pessoal por e-mail em 6/6/01.
CAPOVILLA, Fernando César, RAPHAEL, Walkiria Duarte. Dicionário enciclopédico trilíngüeda língua de sinais brasileira, v. I e II. São Paulo: Edusp, 2001.
CNE. Resolução nº 2, 11/9/01.
DUTRA, Claudia Pereira. Parecer sobre a grafia da palavra “braille”. Benjamin Constant, Rio deJaneiro, ano 11, nº 31, agosto 2005, p. 27.
GARDNER, Howard. Inteligência: um conceito reformulado [Intelligence reframed]. Rio deJaneiro: Objetiva, 2000.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e estilo. São Paulo: O Estado de S.Paulo, 1990, p. 313.
MUSTACCHI, Zan. Síndrome de Down. In: MUSTACCHI, Zan, PERES, Sergio. Genéticabaseada em evidências: síndromes e heranças. São Paulo: CID, 2000, p. 880.
OMS. Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual. Montreal, Canadá, 4-6 outubro 2004.
PROJETO DOWN. Você diz mongolóide ou mongol. Nós dizemos síndrome de Down. Seus amigospreferem chamá-lo de Bruno. São Paulo: Centro de Informação e Pesquisa da Síndrome deDown, s/d. (folheto).

**Consultor de inclusão social e autor dos livros Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos (5.ed.,Rio de Janeiro: WVA, 2003) e Inclusão no Lazer e Turismo: em busca da qualidade de vida (SãoPaulo, Áurea 2003).
SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev. 2002, p. 6

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Uso correto da terminologia sobre o tema deficiência – Parte 1



Quantas vezes nós, mulheres com deficiência, nos deparamos com as terminologias erradas quando uma pessoa vem falar com a gente ou quando se refere a nossa condição física, em muitos casos nos deparamos com termos como; aleijado, portador de deficiência etc, este artigo escrito por Romeu Aassaki traz uma grande explicação sobre como se referir as pessoas com deficiência de uma maneira correta.
O artigo é grande e por isso dividiremos em duas partes.




De acordo com Romeu Sassaki*:

“Usar ou não usar termos técnicos corretamente não é uma mera questão semântica ou sem importância, se desejamos falar ou escrever construtivamente, numa perspectiva inclusiva, sobre qualquer assunto de cunho humano. E a terminologia correta é especialmente importante quando abordamos assuntos tradicionalmente eivados de preconceitos, estigmas e estereótipos, como é o caso das deficiências que aproximadamente 14,5% da população brasileira possuem.

Os termos são considerados corretos em função de certos valores e conceitos vigentes em cada sociedade e em cada época. Assim, eles passam a ser incorretos quando esses valores e conceitos vão sendo substituídos por outros, o que exige o uso de outras palavras. Estas outras palavras podem já existir na língua falada e escrita, mas, neste caso, passam a ter novos significados. Ou então são construídas especificamente para designar conceitos novos. O maior problema decorrente do uso de termos incorretos reside no fato de os conceitos obsoletos, as idéias equivocadas e as informações inexatas serem inadvertidamente reforçados e perpetuados.

Este fato pode ser a causa da dificuldade ou excessiva demora com que o público leigo e os profissionais mudam seus comportamentos, raciocínios e conhecimentos em relação, por exemplo,à situação das pessoas com deficiência. O mesmo fato também pode ser responsável pela resistência contra a mudança de paradigmas como o que está acontecendo, por exemplo, na mudança que vai da integração para a inclusão em todos os sistemas sociais comuns.

Trata-se, pois, de uma questão da maior importância em todos os países. Existe uma literatura consideravelmente grande em várias línguas. No Brasil, tem havido tentativas de levar ao público a terminologia correta para uso na abordagem de assuntos de deficiência a fim de que desencorajemos práticas discriminatórias e construamos uma verdadeira sociedade inclusiva.

A seguir, apresentamos várias expressões incorretas seguidas de comentários e dos equivalentes termos corretos, frases corretas e grafias corretas, com o objetivo de subsidiar o trabalho de estudantes de qualquer grau do sistema educacional, pessoas com deficiência e familiares, profissionais de diversas áreas (reabilitação, educação, mídia, esportes, lazer etc.), que necessitam falar e escrever sobre assuntos de pessoas com deficiência no seu dia-a-dia. Ouvimos e/ou lemos esses termos incorretos em livros, revistas, jornais, programas de televisão e de rádio, apostilas,reuniões, palestras e aulas.

A enumeração de cada expressão incorreta servirá para direcionar o leitor de uma expressão para outra quando os comentários forem os mesmos para diferentes expressões (ou pertinentes entre si), evitando-se desta forma a repetição dos comentários.

1. adolescente normal

Desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto) que não possua uma deficiência, muitas pessoas usam as expressões adolescente normal, criança normal eadulto normal. Isto acontecia muito no passado, quando a desinformação e o preconceito a respeito de pessoas com deficiência eram de tamanha magnitude que a sociedade acreditava na normalidade das pessoas sem deficiência. Esta crença fundamentava-se na idéia de que era anormal a pessoa que tivesse uma deficiência. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado. TERMOS CORRETOS: adolescente(criança, adulto) sem deficiência ou, ainda, adolescente (criança, adulto) não-deficiente.

2. aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido

Estes termos eram utilizados com freqüência até a década de 80. A partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, começa-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão pessoa deficiente. O acréscimo da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente para a função de adjetivo, foi uma grande novidade na época. No início, houve reações de surpresa e espanto diante da palavra pessoa: “Puxa, os deficientes são pessoas!?” Aos poucos, entrou em uso a expressão pessoa portadora de deficiência, freqüentemente reduzida para portadores de deficiência. Por volta da metade da década de90, entrou em uso a expressão pessoas com deficiência, que permanece até os dias de hoje.

3. “apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno

”Na frase acima há um preconceito embutido: ‘A pessoa com deficiência não pode ser um ótimo aluno’. FRASE CORRETA: “ele tem deficiência e é um ótimo aluno”.

4. “aquela criança não é inteligente

”Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas. Até o presente, foi comprovada a existência de nove tipos de inteligência: lógico-matemática,verbal-lingüística, interpessoal, intrapessoal, musical, naturalista, corporal-cinestésica evisual-espacial (GARDNER, 2000). FRASECORRETA: “aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por ex.] lógico-matemática”.

5. cadeira de rodas elétrica: Trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um motor.

TERMO CORRETO: cadeira de rodas motorizada.

6. ceguinho

O diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa completa.

TERMOS CORRETOS: cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual.

7. classe normal

TERMOS CORRETOS: classe comum; classe regular. No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra classe sem adjetivá-la.

8. criança excepcional

TERMOS CORRETOS: criança com deficiência intelectual, criança com deficiência mental. Excepcionais foi o termo utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas com deficiência intelectual. Com o surgimento de estudos e práticas educacionais nas décadas de 80 e 90 a respeito de altas habilidades ou talentos extraordinários, o termo excepcionais passou a referir-se tanto a pessoas com inteligências múltiplas acima da média [pessoas superdotadas ou com altas habilidades e gênios] quanto a pessoas com inteligência lógico-matemática abaixo da média [pessoas com deficiência intelectual]? daí surgindo, respectivamente, os termos excepcionais positivos e excepcionais negativos,de raríssimo uso.

9. defeituoso físico

Defeituoso, aleijado e inválido são palavras muito antigas e eram utilizadas com freqüência até o final da década de 70. O termo deficiente, quando usado como substantivo(por ex., o deficiente físico), está caindo em desuso. TERMO CORRETO:pessoa com deficiência física.

10. deficiências físicas (como nome genérico englobando todos os tipos de deficiência).

TERMO CORRETO: deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo, mas referindo-se a todos os tipos). Alguns profissionais, não-familiarizados com o campo da reabilitação, acreditam que as deficiências físicas são divididas em motoras, visuais, auditivas e mentais. Para eles, deficientes físicos são todas as pessoas que têm deficiência de qualquer tipo, o que é um equívoco. A deficiência física, propriamente dita, consiste na “alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimentoda função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções” (arts. 5º e 70, Decreto nº 5.296, 2/12/04).

11. deficientes físicos (quando se referir a pessoas com qualquer tipo de deficiência).TERMO CORRETO: pessoas com deficiência (sem especificar o tipo de deficiência).

12. deficiência mental leve, moderada, severa, profunda

TERMO CORRETO: deficiência intelectual (sem especificar nível de comprometimento). A partir da Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, aprovada em 6/10/04 pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), em conjunto coma Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o termo “deficiência mental” passou a ser “deficiência intelectual”. Antes, em 1992, a Associação Americana de Deficiência Mental adotou uma nova conceituação da deficiência intelectual (até então denominada“deficiência mental”), considerando-a não mais como um traço absoluto da pessoa que a tem e sim como um atributo que interage com o seu meio ambiente físico e humano, o qual deve adaptar-se às necessidades especiais dessa pessoa, provendo-lhe o apoio intermitente, limitado, extensivo ou permanente de que ela necessita para funcionar em 10 áreas de habilidades adaptativas: comunicação, auto cuidado, habilidades sociais, vida familiar, uso comunitário, autonomia, saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho. A classificação em leve, moderada, severa e profunda foi instituída pela OMS em 1968 e perdurou até 2004.

13. deficiente mental (quando se referir a uma pessoa com transtorno mental)

TERMOS CORRETOS: pessoa com transtorno mental, paciente psiquiátrico.

14. doente mental (quando se referir a uma pessoa com deficiência intelectual)

TERMO CORRETO: pessoa com deficiência intelectual (esta deficiência ainda é conhecida como deficiência mental). O termo deficiente, usado como substantivo (por ex.:o deficiente intelectual), tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas por motivo de economia de espaço.

15. “ela é cega mas mora sozinha””

Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Todo cego não é capaz de morar sozinho’.
FRASE CORRETA: “ela é cega e mora sozinha”

16. “ela é retardada mental mas é uma atleta excepcional” ”

Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Toda pessoa com deficiência mental não tem capacidade para ser atleta’. FRASE CORRETA: “ela tem deficiência mental [intelectual] e se destaca como atleta”

17. “ela é surda [ou cega], mas não é retardada mental”

A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo mental’.Retardada mental, retardamento mental e retardo mental são termos do passado. O adjetivo“mental”, no caso de deficiência, mudou para “intelectual” a partir de 2004. Ver o item 12. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência intelectual”.

18. “ela foi vítima de paralisia infantil”

A poliomielite já ocorreu nesta pessoa (por ex., ‘ela teve pólio’). Enquanto a pessoa estiver viva, ela tem seqüela de poliomielite. A palavra vítima provoca sentimento de piedade. FRASES CORRETAS: “ela teve [flexão no passado] paralisia infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente] seqüela de paralisia infantil”.

19. “ela teve paralisia cerebral” (quando se referir a uma pessoa viva no presente) A paralisa cerebral permanece com a pessoa por toda a vida.
FRASE CORRETA: “ela tem paralisia cerebral”.

20. “ele atravessou a fronteira da normalidade quando sofreu um acidente de carro e ficou deficiente”

A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável. A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ele teve um acidente de carro que o deixou com uma deficiência”.

21. ”ela foi vítima da pólio”

A palavra vítima provoca sentimento de piedade.
TERMOS CORRETOS: pólio, poliomielite e paralisia infantil. FRASE CORRETA: ”ela teve pólio”

22. “ele é surdo-cego”

GRAFIA CORRETA: “ele é surdocego”. Também podemos dizer ou escrever: “ele tem surdocegueira”. (Ver o item 55).

23. “ele manca com bengala nas axilas”

FRASE CORRETA: “ele anda com muletas axilares”. No contexto coloquial, é correto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada em muletas.

24. “ela sofre de paraplegia” [ou de paralisia cerebral ou de seqüela de poliomielite]

A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou seqüelade poliomielite].

25. escola normal

No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra escola sem adjetivá-la. TERMOS CORRETOS: escola comum; escola regular. (Ver os itens7 e 51).

26. “esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente”

Nesta frase há um estigma embutido: ‘Filho deficiente é um peso morto para a família’.
FRASE CORRETA: “esta família tem um filho com deficiência”.

27. “infelizmente, meu primeiro filho é deficiente; mas o segundo é normal”

A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável, ultrapassado. E a palavra infelizmente reflete o que a mãe pensa da deficiência do primeiro filho: ‘uma coisa ruim’.
FRASE CORRETA: “tenho dois filhos: o primeiro tem deficiência e o segundo não tem”.

28. intérprete do LIBRAS

TERMO CORRETO : intérprete da Libras (ou de Libras.

GRAFIA CORRETA: Libras. Libras é sigla de Língua de Sinais Brasileira: Li = Língua de Sinais, bras = Brasileira.“Libras é um termo consagrado pela comunidade surda brasileira, e com o qual ela se identifica. Ele é consagrado pela tradição e é extremamente querido por ela. A manutenção deste termo indica nosso profundo respeito para com as tradições deste povo a quem desejamos ajudar e promover, tanto por razões humanitárias quanto de consciência social e cidadania. Entretanto, no índice lingüístico internacional os idiomas naturais de todos os povos do planeta recebem uma sigla de três letras como, por exemplo, ASL(American Sign Language). Então será necessário chegar a uma outra sigla. Tal preocupação ainda não parece ter chegado na esfera do Brasil”, segundo CAPOVILLA (2001). É igualmente aceita a sigla LSB (Língua de Sinais Brasileira). A rigor, na grafia por extenso, quando se tratar da disciplina Língua de Sinais Brasileira, escreve-se em maiúsculo a letra inicial de cada uma dessas palavras. Mas, quando se referir ao substantivo composto, grafa-se “língua de sinais brasileira”, tudo em caixa baixa. (Ver os itens 31, 32 e 33.29).

29. inválido (quando se referir a uma pessoa que tenha uma deficiência)

A palavra inválido significa sem valor. Assim eram consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência.


* Consultor de inclusão social e autor dos livros Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos (5.ed.,Rio de Janeiro: WVA, 2003) e Inclusão no Lazer e Turismo: em busca da qualidade de vida (SãoPaulo, Áurea 2003).Fonte: SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev. 2002, p. 6-9.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Sorolidade a companheira Fernanda Vicari.

Nós mulheres com deficiência do Grupo Inclusivass que é formado por mulheres com e sem deficiência que lutam pelo direito de se viver uma vida digna, viemos manifestar nossa solidariedade ao ocorrido com a companheira Fernanda Vicari no dia 11/01/16 onde ela relata em um post em sua rede social o total desrespeito, preconceito e discriminação sofrida por ela nesta data.
Nós mulheres com deficiência repudiamos qualquer ato de violência, seja ela física, psicológica e de gênero os quais foram sofridos por ela e salientamos que no dia 06/01/16 entrou em vigor a Estatuto da Pessoa com Deficiência e que é crime discriminar uma pessoa com deficiência.
Estamos atentas aos nossos direitos e não vamos nos calar.

Sejamos respeitadas,
Sejamos livre de preconceito,

Grupo Inclusivass


Seu relato abaixo:

Compartilhando com vocês um fato ocorrido comigo e minha irmã no dia de ontem.
O que era pra ser um simples café com minha irmã tornou-se um momento muito triste, deprimente e revoltante da minha vida.
Ao sair de uma confeitaria localizada na Borges de Medeiros no Centro de Porto Alegre, ía descendo a rampa de costas com o auxílio da minha irmã, quando veio por trás dela um homem que sem calma nenhuma, a empurrou, fazendo com que meu pneu tocasse o pé dele. Enfurecido me empurrou com força, e começou a proferir toda espécie de xingamentos.
Foram momentos de puro constrangimento, onde ele gritava dizendo que eu tinha estragado o sapato dele de 700 reais, dizendo que chamaria a polícia.
Não intimidadas, eu e minha irmã, falamos a ele que chamasse, porque se havia alguém ali que não foi respeitada, havíamos sido nós. Ele percebendo que não nos afastamos, entrou de volta na confeitaria e disse “que não era por acaso que eu tinha nascido assim aleijada”.
Fomos atrás dele e falamos que quem chamaria a polícia seríamos nós. Como estávamos na Borges de Medeiros, minha irmã chamou um Policial Militar que estava na Esquina Democrática. Minha irmã, o PM e o “Pseudo” gerente (que em nenhum momento mostrou qualquer tipo de apoio a nós) subiram ao segundo andar e buscaram o agressor.
Nos dirigimos ao Posto de Polícia na José Montaury, onde prestamos queixa e fomos ouvidas, gerando um Boletim de Ocorrência.
Não precisaria dizer que a conduta do agressor mudou totalmente após a chegada do PM, e enquanto estávamos no Posto Policial, o mesmo, chegou a chamar minha irmã para que conversassem.
O preconceito está arraigado em muitos e ataca quem se dispõem a confrontá-lo. Falta em muitas pessoas características básicas para o convívio social, como por exemplo: civilidade, humanidade, educação e respeito.
Esta não foi a primeira vez, e provavelmente não será o última, que ocorre algo deste gênero comigo, mas é um possível resultado (negativo) de quando nos dispomos a viver e conviver em uma sociedade excludente e segregadora.
Fui vítima de um crime de ódio, devido a minha condição de mulher com deficiência. Humilhada, intimidada, agredida física e verbalmente, com palavras ofensivas, gritos, descontrole total. Minha irmã exposta juntamente comigo a esta situação, em uma posição tão dolorosa quanto a minha. Tudo aconteceu pela falta de humanidade e respeito, especialmente a intolerância, ao sentimento de superioridade daquele homem ao se deparar com duas mulheres, sendo uma delas pessoa com deficiência, o que, com certeza caracterizou pra ele, maior vulnerabilidade, submissão e possibilidade de opressão.
Ele cometeu um crime, segundo o Art 140 do Código Penal, e não me calei. Não nos calamos. É difícil estar em um ambiente hostil a nossa condição de mulher, especialmente com deficiência, mas não nos calarão.
Gratidão Telia Negrao, pela generosidade sem tamanho, e a minha irmãClaudia Santos, pelo amor incondicional!
As minhas amig@s pela preocupação comigo!

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Ensaio Fotográfico De Mulher Cadeirante Surpreende Com O Belo Resultado

Foto do rosto de Thaise Maki
Sentir-se bem consigo mesmo é um desafio nos dias de hoje. Como se não bastasse, além da mídia estar sempre reforçando a ideia do "corpo perfeito", a sociedade também vive julgando a pessoa "bonita ou feia". Associado à correria do dia a dia, acabamos perdendo o interesse e, sem perceber, passamos a evitar de olhar para o nosso próprio corpo e beleza.


Foi isso que aconteceu com a nossa colaboradora Thaise Maki que, nos surpreende com um super ensaio fotográfico... Ela também ficou surpresa com o resultado.
"...Ganhei minhas rodinhas após um acidente automobilístico ocorrido há cerca de 15 anos.
Minto se disser que nunca tive problemas com autoestima, ainda mais após o acidente. Certo dia durante meu processo de reabilitação, meu professor (hoje um amigo muito querido) me viu em um momento muito delicado e mostrou várias fotos de uma cadeirante (a Mara Gabrilli!) que aprendeu a se valorizar apesar da deficiência e fez um ensaio fotográfico belíssimo.
Naquele momento não dei muita importância porque meu choro era mais alto. Mas com os dias e os obstáculos que nos são impostos percebi que gostar da Thaíse era um passo essencial para a minha recuperação." (Thaíse Maki).


A fotógrafa e produtora Isis Rezende foi quem a convidou para fazer o ensaio. O resultado vocês podem conferir agora:


"Acordei numa manhã decidida em presentear alguém com minhas fotos, e a Thaíse me veio em mente (já nos conhecíamos há anos). O ensaio fotográfico não foi só um presente pra Thaíse, mas pra mim também. Foi um dia de muito aprendizado, pois conheci um pouco mais dela e fiquei encantada com sua beleza e sua força. Fiquei muito feliz em poder proporcionar isto à ela e com certeza me deu mais orgulho ainda da minha profissão, fazendo, também, o bem para os outros..."
(Isis Rezende).

- Thaíse, como foi fazer um ensaio fotográfico profissional?

Foi um trabalho de expectativa e realização que eu jamais teria conseguido sem a ajuda de "anjos" na minha vida que sempre estão comigo e topam todas as minhas ideias malucas (risos). Atrás de cada imagem tem muita transferência (cadeira de rodas, sofá, chão, cama... só faltou levitar kkkkkkkk), muito malabarismo pra colocar o pé no lugar e, inevitavelmente, muitas historias que só quem é cadeirante ou convive com algum de nós poderia entender.

- Vendo as fotos prontas, o que foi que você sentiu? Deu uma "chacoalhada" na autoestima?

Senti tudo (risos)... Adorei as imagens, os comentários, o cuidado com que cada ângulo foi escolhido pela Isis e pelo Rafael e, mais ainda, o olhar surpreso das pessoas ao saber que se trata de uma cadeirante, SIM! Tetraplégica, lesão C4 a C6... Por que não?

- Você indica outras pessoas a fazerem também?

Acredito que primeiro você deve gostar de quem é (com nossos milhares de defeitos) e ter uma energia boa que queira passar para as pessoas que forem apreciar o trabalho. Assim, qualquer imagem vai ser capaz de transmitir o seu melhor através do seu olhar, do seu sorriso, da sua atitude. E isso, não há photoshop que agregue!

Se você tem vontade de ser fotografada(o) pelas lentes de um profissional, FAÇA! Não fique com vergonha (levei anos pra tomar coragem, apesar de adorar fotografia), e DIVIRTA-SE MUITO!!! É um trabalho singular que iremos guardar pra vida inteira. Eu ADOREI o resultado e espero que vocês também gostem.

Fotos e produção: Isis Rezende e Rafael Dias


Fonte: Cantinho dos Cadeirantes

HIV transmitido por cabeçada? Só em `Malhação` mesmo

HIV transmitido por cabeçada? Só em `Malhação` mesmo



Agência Aids – Continua gerando polêmica a cena da novelinha teen da Globo, “Malhação”, exibida no dia 25 de dezembro, em que os personagens Henrique (Thales Cavalcanti) e Luciana (Marina Moschen) dão uma cabeçada durante um jogo de basquete e se machucam. O garoto, assustado, revela ser soropositivo desde o nascimento e inicia-se uma sequência de cenas acusadas pelo movimento social e por especialistas de “desserviço” ao público por causa da abordagem considerada errada tanto do ponto de vista científico, como social, por reforçar estigmas e preconceitos. Nesta segunda-feira (4), a repórter Mirthyani Bezerra, do portal UOL, ouviu a coordenadora adjunta do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo para esclarecer que HIV não se transmite por cabeçada. Leia a seguir:
HIV transmitido por cabeçada? Médica explica contágio e prevenção do vírus
Um episódio  de “Malhação”, novela voltada para o público adolescente da Rede Globo, veiculado no final de dezembro, tem gerado polêmica nas redes sociais sobre a transmissão do vírus HIV e os direitos de pacientes soropositivos. Parte do público, além de ativistas e organizações não governamentais, ficou insatisfeita com a maneira como o tema foi abordado, apontando falta de informação sobre o assunto por parte dos produtores da novela e tom alarmista.
No capítulo veiculado no dia 25 de dezembro, os personagens Henrique e Luciana se chocam durante um jogo de basquete na escola. Os dois se ferem na testa e o rapaz, que é soropositivo, se preocupa com a possibilidade de ter infectado a jovem. Ele decide contar a ela que tem o vírus HIV e, na sequência, leva Luciana a um serviço de saúde. No local, é receitada a PEP (profilaxia pós-exposição) e a menina começa a fazer o tratamento.
Na PEP, a pessoa exposta deve tomar, durante 28 dias consecutivos, medicamentos antirretrovirais, em até 72 horas após a exposição. A infectologista Rosa Alencar (foto), coordenadora adjunta do Programa de DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, explicou que existem três situações em que a PEP é receitada: violência sexual, ato sexual consentido sem proteção com pessoa sabidamente soropositiva e por acidentes ocupacionais e profissionais – como um profissional da saúde que se espeta com agulha usada em paciente com HIV, por exemplo.
No caso da novela, Rosa Alencar afirma que a chance de transmissão seria mínima, “ainda mais em um contato tão rápido”. “Mas, a indicação é avaliar a situação do paciente. Se a pessoa ficou abalada com aquilo, a gente indica o tratamento apesar da pouca probabilidade”, diz.
A chance de transmissão muda conforme o tempo de exposição, a chance de secreção contaminante e a carga viral do paciente. Há pessoas que por causa do tratamento possuem uma carga viral indetectável em que, no caso de exposição sexual, “a chance de transmissão é teórica”. “Estudos mostram transmissão nula de HIV quando o paciente possui carga viral inexistente, mas existe uma gradação. Por inferência, a transmissão sexual é menos efetiva que a transmissão sanguínea”, acrescenta.
O contato com suor, lágrima, fezes, urina, vômito, secreção nasal e saliva (exceto quando há sangue), pele (exceto quando há algum tipo de ferimento) não é considerado de risco para transmissão do HIV e, por isso, não há recomendação de profilaxia.
Formas de infecção
O HIV pode ser transmitido através do sexo sem preservativo (seja ele vaginal, anal ou oral); da mãe infectada para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação; uso da mesma seringa ou agulha contaminada por mais de uma pessoa; transfusão de sangue contaminado com o HIV; e instrumentos que furam ou cortam, não esterilizados.
Segundo relatório do Ministério da Saúde, a velocidade de expansão do HIV é mais alta na faixa etária entre 15 e 24 anos. Em 2014, a taxa de detecção por 100 mil habitantes era de 6,7 na população de homens de 15 a 19 anos. Em 2005, a taxa era de 2,1 por 100 mil. No grupo de 20 a 24 anos, a taxa passou de 16,0 casos por 100 mil habitantes, em 2005, para 30,3 casos por 100 mil habitantes.
A polêmica
Em nota, o Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo afirmou que a aplicação da PEP foi abordada “sem o conjunto amplo de informações que a situação exige, e ainda recheado de frases discriminatórias que em nada contribuem para o avanço da discussão do tema”.
O Fórum escreveu ainda que a decisão de contar ou não sobre a sua situação sorológica é do paciente e que ela não deve ser revelada sob o argumento da necessidade de se “tomar as medidas necessárias”, como é sugerido pela mãe da personagem Luciana no episódio, ao defender que a escola deveria saber da condição de Henrique.
A frase em que Henrique afirma que isso nunca havia acontecido com ele porque toma todos os cuidados, inclusive, evita “ao máximo fazer esportes” foi duramente criticada. A mãe do cantor Cazuza, Lucinha Araújo, presidente da Sociedade Viva Cazuza, afirmou em postagem na página da ONG do Facebook que é de fazer “chorar” um programa “destinado ao público jovem aconselhar soropositivos a não praticar esportes, a mostrar um médico receitar medicamento antirretroviral numa situação onde dois jovens dão uma cabeçada”.
A prática de exercícios é altamente recomendada para pacientes soropositivos. Segundo Rosa Alencar, atividades físicas diminuem os possíveis efeitos colaterais do tratamento com antirretrovirais. “Algumas pessoas apresentam desde efeitos colaterais simples como mal-estar gástrico, enjoos, vômitos, até alterações mais sérias, como aumento do risco de ter problemas cardiovasculares e renais, que no geral são contornáveis. Os exercícios físicos previnem o surgimento desses problemas mais sérios”, explica.
Fonte: Agência Aids, publicado em 05 de janeiro de 2015.